segunda-feira, 12 de outubro de 2009

HELL HOUSE - A CASA INFERNAL, de Richard Matheson


Para um fanático pelo horror, as palavras "Richard Matheson" e "A Casa Infernal" na capa de um livro equivalem às palavras "Whisky vinte anos" e "Grátis" na frente de um bar para um alcoólatra. Somos obrigados a parar tudo que estamos fazendo para descobrir imediatamente o que aquilo significa. "Quando a esmola é demais, o santo desconfia", então precisamos ter certeza se estamos vendo algo real ou não.

Felizmente é real. O clássico livro Hell House finalmente foi lançado no Brasil (pela editora Novo Século). Lançado nos EUA em 1971 (demorou só um pouquinho pra chegar aqui, como sempre), a obra conta a história da terceira excursão até a Mansão Belasco, a Casa Infernal. Considerada o Monte Everest das casas mal-assombradas, a mansão já foi palco de cenas dantescas de horror. Duas excursões anteriores tentaram desvendar os mistérios da casa, mas terminaram mal. Muito mal. Percebendo que sua vida está chegando ao fim, o milionário Rudolph (não é a rena de nariz vermelho) Deutsch contrata uma equipa para responder a pergunta que tortura sua mente: existe vida após a morte? Para responder tão simples questão, o velho manda quatro pessoas para passarem uma semana na Mansão Belasco, sob a promessa do pagamento de 100 mil dólares no final do experimento. Os coitad... digo, felizardos a aceitarem a missão são:

Dr. Lionel Barrel, especialista em parapsicologia. Cético e respeitável, o sujeito acredita que todos os fenômenos sobrenaturais possuem explicações lógicas e científicas (um padre Quevedo das antigas, por assim dizer); a proposta do velho Deutch é a grande chance de sua vida, pois poderá não só adquirir tranquilidade financeira, como também provar de vez por todas suas teorias.

Edith Barrel, a esposa do doutor. Frágil e não muito corajosa, a mulher preocupa-se imensamente com a saúde do marido, manco por causa da poliomielite. Sexualmente reprimida, Edith é a personagem que não entende (e por isso, teme) os fenômenos que irá presenciar. Portanto, ela representa os olhos do leitor dentro da casa infernal.

Florence Tanner, médium e ex-atriz. A bela mulher faz consultas mediúnicas e também vê como uma bela oportunidade a proposta do milionário. Recatada e crédula, Florence entra na mansão totalmente receptiva aos fenômenos ali presentes, acreditando desde o início que a casa está assombrada por espíritos. Essa atitude pode se revelar temerária, pois a deixará mais suscetível à influência nefasta do casarão.

Benjamin Fischer: considerado um dos maiores médiuns que já existiu, Fischer foi o único sobrevivente da excursão anterior à Mansão Belasco, de onde escapou por pouco. Agora uma mera sombra do que já foi, o médium aceita voltar à casa infernal pelo dinheiro envolvido, e também porque fechou sua mente para as forças psíquicas. Sua idéia é entrar na casa, morgar uma semana e depois embolsar a grana. No entanto, seu envolvimento com os outros personagens fará com que reveja suas atitudes.

Sim, a trama não parece muito diferente de outras histórias de casas mal-assombradas, como o clássico A Assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson (aguardem resenha futura). No entanto, estamos falando de um livro de Richard Matheson aqui. O grande Richard Matheson que escreveu a melhor história de vampiros de todos os tempos, chamada Eu sou a Lenda (estou falando do livro, não daquele filme porcaria que estragou tudo), além de episódios clássicos dos seriados Além da Imaginação e Star Trek. O cara escreve bem, e sua narrativa tem um ritmo perfeito: nem muito enrolado, nem muito rápido, a trama se desenrola com fluidez, revelando aos poucos os mistérios do casarão.

E que casarão! Ao contrário de outras casas do gênero, onde vemos no máximo uns vultos pelos cantos e ouvimos barulhos esquisitos, a Mansão Belasco tem a sutileza de um Cthulhu jantando com uma família de italianos. É arrepiante o momento que Edith pega um relatório sobre a casa e começa a ler os inúmeros fenômenos já observados ali dentro ("Adivinhação; alongamentos; aparições; automatismo motor; automatismo sensorial; autoscopia; batidas; bilocação..." e por aí vai). A casa não se contenta em apenas assustar ou influenciar. Se não forem tomadas as precauções necessárias, a casa mata. De fato, é a mansão mais violenta que já vi na literatura, mas não de uma forma apelativa ou exagerada, do tipo que lemos e pensamos "ah, tá". A Mansão Belasco convence. Vejam só o que Stephen King falou sobre o livro certa vez (palavras convenientemente colocadas na contra-capa, é claro):

"Hell House é o romance sobre casas mal-assombradas mais aterrorizante que já foi escrito. Destaca-se entre outras histórias do gênero como uma montanha no meio de uma planície".

Sim, meus caros, o livro assusta. Particularmente, acho que não assusta tanto quanto A Assombração da Casa da Colina, O Iluminado ou Horror em Amithiville (livro que Stephen King odeia), mas causa calafrios em diversas passagens, além de deixar uma sensação incômoda, que perdura.

A relação entre os personagens é bastante interessante e dinâmica, com discussões entre o Dr. Barrel e Florence Tanner, pelas diferenças filosóficas de ambos. As teorias do cientista já parecem datadas a essa altura, mas continuam coerentes e interessantes. Outras questões são levantadas durante a história, inclusive com manifestações e influências eróticas causadas pela casa, que teve um passado de devassidão e loucura.

O único ponto fraco é o desfecho, que me pareceu um tanto insatisfatório. Não é um final ruim, mas é algo que, na minha opinião, ficou aquém do restante do livro. Mas isso é meramente pessoal, e acho que a maioria das pessoas irá gostar. Que diabos, o final podia mostrar todos os personagens fazendo a dança do quadrado com os fantasmas, que isso não tiraria o brilho desse excelente romance de horror (tá bom, tá bom, eu exagerei. Mas vocês entenderam o que eu quis dizer, rs).

Enfim, Hell House é mais uma recomendação sem erro aqui da Biblioteca. Não é uma obra-prima como os livros que citei acima, mas é uma excelente entretenimento. Ah, também existe um filme baseado na obra, chamado A Casa da Noite Eterna. Ainda não vi, mas dizem que é ótimo.

Boa leitura.

7 comentários:

  1. Oi,gosto muito do seu blog,muito bom mesmo,gostaria de fazer uma parceria,uma troca de Banner,abraços.

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  2. Nenezio, parceria feita, teu banner tá nos meus dois blogs. Desculpe não responder no seu blog, por alguma razão não consigo postar nada lá. Abraços!

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  3. Mário, fique a vontade para postar a minha resenha do livro A Rua do Terror, aqui na Biblioteca. Na verdade, será uma grande honra! E sim, gostaria de poder colaborar com este inefável espaço, quando me atrever novamente em tal tarefa (rsrsrrs). Qto aos comenários postados em Sede e Pus: Vindo de um crítico hábil como você, fico extremamente envaidecido com tais considerações. Um grande abraço, amigo!

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  4. Valeu Dagon, vou conferir o filme com certeza. E obrigado pelos elogios, espero continuar ajudando os interessados em horror a escolherem bons livros. Abraços!

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  5. Comecei a ler "Hell House" hoje, depois de mais de 30 anos de ansiosa espera pelo livro. Cresci assistindo "A Casa da Noite Eterna" na TV muitas e muitas vezes e até hoje é um dos meus filmes de terror favoritos.

    Gostei muito da sua resenha. Você só esqueceu de citar que o grande Richard Matheson também é conhecido como roteirista (todas as adaptações de Edgar Allan Poe com direção de Roger Corman, entre muitos outros) e como autor dos contos "Duel" (base para o filme "Encurralado" de Steven Spielberg), "O Incrível Homem Que Encolheu" (base para o filme de Jack Arnold), "Nightmare at 20,000 Feet" (o melhor de todos os episódios do "Além da Imaginação" clássico), "Button, Button" (o melhor do "Além da Imaginação" dos anos 80), além dos romances "Em Algum Lugar do Passado", "Ecos do Além" e "Amor Além da Vida" (todos viraram filmes). Matheson é um dos meus mestres desde os anos 70.

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  6. Boa noite pessoal e resenhista; este livro é um clássico e sua adaptação para o cinema não deixa nada a desejar.
    Apreciei muito a iniciativa da Novo Século em publicá-lo pela primeira vez no Brasil.
    Entretanto, após anos de espera, a decepção foi enorme: a versão em INGLÊS sim é um clássico, mas a tradução é péssima; inúmeros erros ortográficos, gramaticais, de pontuação, morfológicos e os termos usados pelo autor no original, cuja essência constitui o caráter sombrio da obra, na tradução foram claramente ignorados, ou quando muito, mal interpretados pela tradutora.
    Enfim sua dica é ótima mas sinto que vou ter que esperar mais 30 anos por uma nova tradução.
    Ao terminar de ler o livro senti uma profunda raiva pela tradutora.
    Desculpe pelo comentário adverso, pois ele é estritamente pessoal e ademais seu blog é de altíssimo nível.
    Abraços.

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  7. Imagina, Moisés... de fato, gostei bastante do seu comentário. Não sou muito fluente no inglês (não consigo falar nada, só consigo ler e entender) e, como não li a obra original (e provavelmente não seria capaz de captar as nuances que vc captou), então não sou capaz de opinar sobre a tradução. Sua opinião é mais do que bem vinda. Grande abraço, volte sempre!

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