domingo, 28 de fevereiro de 2010

Dica de Blog: Assomblog

Não sei quanto a vocês, mas se tem um tipo de história que me dá medo, é o "causo real". Vocês sabem, aquelas histórias que as pessoas contam em rodas de amigos (quase sempre de noite), relatadas como se tivessem mesmo acontecido. De fato, eu adoro quando alguém começa contando algum caso tenebroso que aconteceu com um primo, ou uma tia distante, e depois que acaba, alguém começa a contar outra história, e assim vai. Uma coisa que faço muito durante esses relatos é olhar por cima de meu ombro, pois sempre parece que alguma daquelas assombrações vai aparecer de repente, tamanha a tensão que fica no ar!

Enfim, existe um blog que trás essa mesma atmosfera para a telinha do seu computador: o Assomblog, do jornalista Roberto Beltrão. Ele reúne diversas histórias (supostamente reais) que os leitores mandam todos os meses. E meu amigo, há relatos ali que são de arrepiar até aquele pelinho nojento que cresce na sua verruga! Quero dizer, nunca acredito que essas histórias (ou todas) sejam reais, porém, o simples fato delas serem escritas COMO SE FOSSEM reais já me amedronta. Talvez eu esteja sendo enganado por um truque barato, mas não me importo. O que importa é a diversão (e os calafrios, é claro, rs).

Pois bem, se estiver com vontade de sentir medo, clique no seguinte link: Assomblog

Abraços, boa leitura!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

HISTÓRIAS DE ARREPIAR, de Robert Westall


Olá, desbravadores dos labirintos de nossa humilde biblioteca! Após uma resenha mainstream (e um tanto frustrante), nada melhor do que trazer algo mais palatável, satisfazendo assim a mórbida fome dos mais exigentes glutões literários.

Hoje vou falar de um livrinho pocket book com capinha feeeia e xinfrim, do tipo que a gente pega na estante e nem dá muita bola, levando para casa apenas porque estava muito barato. Foi assim comigo, ao menos. E que grata surpresa!

Histórias de Arrepiar, de Robert Westall (Editora Paulicéia), foi lançado no Brasil em 1991. Quase 20 anos atrás, mas a linguagem é tão moderna (no bom sentido) e saborosa, que parece ter sido escrito ontem. O autor inglês (falecido em 1993) é praticamente desconhecido no Brasil, mas em seu país ficou famoso por seus livros infantis e infanto-juvenis, que muitas vezes traziam temas sinistros e bastante maduros para seu público-alvo (que, talvez por isso mesmo, o adorava). Como ele era bom de prosa, suas histórias realmente são capazes de agradar adultos e crianças, com contos de fácil leitura, mas que nunca insultam a inteligência do leitor. De fato, se eu não soubesse que ele escrevia para um público mais jovem, poderia jurar que Histórias de Arrepiar foi feito para adultos.

Mas chega de enrolar! Vamos aos seis deliciosos contos do livro:

Casa Vazia é talvez a melhor história do volume (rivalizando apenas com a terceira, mas não vamos nos precipitar), narrando as desventuras de um garoto que resolve matar aula. O conto, em primeira pessoa, começa com as explicações do menino para ter fugido da escola, e aqui já percebemos o quanto o autor é bom. Seu personagem é daquele tipo que parece respirar, entendem? O guri tem vida! Bem, talvez não por muito tempo, já que enquanto passeia pela cidade, acaba se deparando com uma estranha casa, que parece estar abandonada. Movido pela curiosidade e falta do que fazer, ele acaba entrando na residência, mas a porta se fecha atrás dele, deixando-o irremediavelmente trancado. Aos poucos ele vai descobrindo sinais de que há mais alguém lá dentro, o que garante passagens de suspense muitíssimo bem conduzido, levando ao final criativo e extremamente satisfatório. Um primor!

Dia da Caça é sobre um homem violento e sem consideração pelas fofas criaturas da natureza (que meigo, eu sei), que tem o hábito de caçar texugos para garantir uma graninha extra. Em uma de suas expedições de caça, seus cães acabam feridos por um exemplar particularmente violento, então ele não hesita em dar cabo do bichinho por simples vingança. Dias depois, começa a encontrar marcas de patas e outros sinais em sua casa, indicando que está sendo assombrado por... um texugo! Mas é claro, nem tudo é o que parece ser, e a explicação pode ser ainda mais aterradora. História irônica, que brinca com a absurda hipótese de animais fantasmas.

Linha Cruzada com a Morte é o outro diamante oculto do livro. Na sede dos Samaritanos (uma instituição onde voluntários atendem ligações de pessoas deprimidas), Harry Lancaster se oferece para cuidar do plantão de natal há mais de vinte anos (para alegria dos outros voluntários). Contudo, fica doente na véspera do feriado, obrigando o instituto a encontrar um substituto. Dois jovens recém-casados se oferecem para cuidar do turno, confiantes de que terão uma noite tranquíla e até um pouco romântica no local... Até que uma mulher começa a ligar. A voz no telefone conta que está sendo perseguida, porém alguns detalhes de seu relato parecém desconexos. Ela desliga e liga repetidas vezes, levando os voluntários a uma situação de incredulidade e pavor mortal. Mais um desenvolvimento maravilhoso, novamente um final perfeito. Não é a toa que o autor foi premiado duas vezes com o Carnegie Medal.

Warren, Sharon e Darren é a velha história que todo mundo já conhece, sobre uma moça chamada Sharon que conhece um rapaz, e eram "nada parecidos" (sério, o começo é totalmente Eduardo e Mônica), mas se apaixonam e coisa e tal. Ela não bota muita fé no namorado, que não trabalha e de vez em quando aparece com maços de dinheiro, sabe-se lá de onde. Mas ela também não diz nada, pois sabe que quando abrir a boca, vai acabar com o mundinho de ilusão em que vive. Porém, um estranho acontecimento faz com que Warren mude totalmente de atitude, tornando-se o homem responsável e trabalhador com quem ela poderia viver... mas isso está longe de ser o fato mais estranho, já que há um bom motivo para isso estar acontecendo. Um motivo que só ficará claro lá pelas últimas páginas dessa excelente história.

Tio Otto é o conto mais fraco, o que não significa que seja ruim. Ah, mas não mesmo! A trama é sobre a visita que um professor meio excêntrico faz a uma antiga aluna e seu filho, desencadeando acontecimentos bizarros em um parque perto da casa destes. Primeiro, pavões parecem surgir do nada nos jardins das casas, mas quando os vizinhos tentam capturá-los, as aves desaparecem pelas sebes; depois, estátuas antigas começam a aparecer pelas ruas, fato seguido por outros cada vez mais bizarros, levando a uma situação cada vez mais sinistra. História fraca em relação às outras, mas ainda assim acima da média.

Por fim, O Relógio da Casa Vermelha fecha a obra e faz bonito, contando a infância do personagem narrador ao lado de um pai bondoso, porém rígido, que permite que o filho trabalhe para um amigo que organiza leilões de objetos empenhados. Quando vão buscar o que sobrou na casa de um Major falecido, o menino se apaixona por um grande - e quebrado - relógio de mogno, que é levado para a loja do patrão. De noite, o garoto recebe em sonho a visita do falecido major, que lhe pede que conserte o relógio, pois este ainda "tem um trabalho a fazer". O mais interessante nesse conto é a relação entre pai e filho, que chega a ser tocante ao descrever como um homem tão ignorante e avesso à educação consegue ser amoroso com seu rebento, embora também seja capaz de atitudes bastante questionáveis.

Histórias de Arrepiar é um perfeito exemplo da máxima "nunca julgue um livro pela capa". Caso o encontre em algum sebo, pode ficar feliz, meu caro escavador de raridades: você encontrou mais um pequeno tesouro.

Abraços, boa leitura!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Divulgação: Ebook Beijos e Sombras - Antologia de Contos de Amor e Sobrenaturais, de diversos autores

Post para divulgar o Ebook Beijos e Sombras, com histórias sobrenaturais e românticas, que podem agradar a todos vocês, criaturas ingênuas que acreditam no amor (sou amargo mesmo! Hauahau). Segue a sinopse da obra. Abraços, boa leitura!

Beijos & Sombras - Antologia de Contos de Amor e Sobrenaturais

Autores:
Fabi D. Diamante
Jossi Borges
Maya Blannco
Mia Hertz
Snake Eye's

O amor sobrenatural existe? Há quem acredite que sim...
Nestes contos inéditos de novos autores, essa é a questão. O amor
romântico e puro da adolescente...
O amor que transcende os limites do real e do concreto, do normal e do
aceitável, quando uma mulher passa a receber a proteção e o carinho de
um ente supostamente mitológico e lendário...
O amor que também surge da presença de um "espírito natalino" -
supostamente, apenas uma metáfora usada no mês de dezembro...
E o amor misturado ao horror, quando uma moça é seduzida por um
predador diabólico?
São muitas as abordagens sobre o amor sobrenatural nestes contos, como
por exemplo, a dos seres "Encantados" - parte humanos e parte
animais... Tais seres podem amar realmente um ser humano?
A fantasia mágica de um homem que ultrapassa as fronteiras do tempo,
para realizar um trabalho...
Essas são algumas das questões que são abordadas neste livro de contos
fascinantes, que você não quererá largar até ler a última linha...

Se quiser adquirir pelo site
http://amorelivros.justtech.com.br/product_info.php?cPath=123_136&products_id=1066

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

NOTURNO, de Guillermo del Toro e Chuck Hogan


Você, fã do horror, já deve ter ouvido falar desse livro sobre vampiros, que está disponível nas principais livrarias do país. E com destaque digno dos maiores best sellers! E não é para menos, afinal, um dos autores é o famoso cineasta Guillermo del Toro, diretor de preciosidades como A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno (embora seja mais conhecido por ter dirigido os dois filmes do Hellboy). Associado com o escritor Chuck Hogan, Guillermo nos trás uma premissa diferente da maioria dos livros sobre vampiros, que parece originalíssima para aqueles que pouco conhecem sobre o tema, mas que infelizmente não trás muitas novidades para os mais escolados.

Noturno começa em um delicioso tom de fábula, que lembra bastante o início de Hellboy 2 (falar mais detalhes poderia ser considerado como spoiler); a narrativa logo dá um salto no tempo, quando o Boeing 777 aterrisa em Nova York. Logo após o pouso, o avião permanece misteriosamente parado na pista com as luzes apagadas, como se fosse um gigantesco túmulo. A equipe de emergência vai averiguar o acontecimento bizarro em um início tenso e bastante eficiente, quando descobrimos o que aconteceu com a tripulação e os passageiros. A partir disso, o epidemiologista Eph Goodwheather se vê envolvido com uma estranha epidemia vampírica, que parece ter sido planejada por forças maiores do que poderia imaginar.

Muito mais que um livro de horror, a obra se trata de um thriller escrito segundo a cartilha de um Robin Coock ou um Michael Crichton menos detalhado: privilegia-se a ação e o suspense (é preciso impedir uma tragédia que está prestes a acontecer, numa corrida contra o tempo), em detrimento dos personagens que, quase sempre, são bastante rasos (apresenta-se um personagem; fala-se um pouco sobre sua vida; coloca-se o personagem em ação, sem voltar a aprofundá-lo). Em resumo, o mesmo esquema de nove entre dez thrillers disponíveis no mercado, o que pode ser vantagem para alguns leitores e desvantagem para outros. O bacana nos livros nesse estilo é que eles costumam ser de leitura agradável e ágil, do tipo que prendem o até a última palavra. No entanto, Noturno é um pouco falho nesse aspecto, pois lhe falta aquele "algo mais" que motiva a leitura ininterrupta.

Um autor como Michael Crichton, por exemplo, fazia amplas pesquisas antes de escrever seus livros, o que gerava obras repletas de informações interessantes e inesperadas sobre ciência, antropologia, tecnologia ou qualquer outro tema que importasse para a trama; Dan Brown, por sua vez, tem a capacidade de formular enigmas interessantes em um contexto histórico e artístico, que despertam uma curiosidade imensa para chegar ao desfecho; Tom Clancy escreve sobre a guerra moderna e todos os seus aspectos mais fascinantes, o que faz de seu trabalho um prato cheio para quem é chegado em assuntos bélicos. Enfim, os autores de best sellers conseguem destaque por suas características próprias, que os tornam queridos por determinado nicho de leitores. E é isso que falta em Noturno, algum diferencial de verdade. Escrever um thriller com temática de horror, além de não ser novidade, ainda é muito pouco para sustentar uma narrativa nesse estilo.

O livro é até agradável de ler, mas ao menos em mim, não despertou aquela sensação de "não consigo parar de ler". Não é o tipo de obra que se lê em uma tacada só, pois embora mantenha o interesse em alguns trechos, se torna bastante cansativo em outros. Por exemplo, acompanhamos com entusiasmo as primeiras transformações dos infectados e seus ataques, porém tais situações vão apenas aumentando (para dar o tom da ameaça crescente), e como não mudam muito, acabam se tornando repetitivas . O tom científico dado ao tema do vampirismo, com explicações para a metamorfose, o apetite por sangue e tudo mais, certamente será novidade para muitos leitores, mas não para aqueles que já leram o espetacular (e muuuuito superior) Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson. Se você ainda não conferiu essa preciosidade, acredite: as explicações de Matheson eram muito melhor equilibradas e faziam mais sentido.

Talvez por ser o primeiro romance do cineasta, de vez em quando nos deparamos com um ou outro erro grosseiro na escrita (mas era de se esperar que o outro escritor não deixasse isso passar em branco). Por exemplo, em determinado trecho, um dos personagens precisa se defender de uma das monstruosidades com o que tem à mão; para sua sorte ele está em um hospital, e o que encontra mais próximo é uma daquelas serras usadas para cortar crânios... Só que o autor literalmente interrompe a ação para dizer o nome do aparelho e explicar detalhadamente sua função, aparência, etc! Enfim, um trecho que tinha por objetivo causar aflição acaba comprometido por um didatismo forçado.

Sobre o livro em si, a impressão que se tem é que del Toro resolveu testar um roteiro antes de filmar, lançando-o em forma de romance para fazer pesquisa de mercado. Além disso, as criaturas de Noturno lembram vagamente os sanguessugas do competente Blade 2, também dirigido pelo cineasta. Aliás, interessante notar que em determinado momento do livro, alguns personagens se armam com traquitanas ao estilo do personagem de Wesley Snipes, inclusive utilizam uma arma IDÊNTICA a uma que é usada no filme do caçador de vampiros da Marvel. Isso me faz pensar que a idéia para o livro deve ter surgindo enquanto Blade 2 era filmado, mas não posso provar nada. :)

Mas é claro, ainda é um livro com um dedo (ou dez) de Guillermo del Toro, então muita coisa se salva. As tais explicações científicas, embora rasas e um tanto confusas, são grotescas o bastante para satisfazer o apetite de sangue dos leitores mais mórbidos (eu incluso, he he). Por exemplo, aqui você encontrará a resposta para uma questão que há muito tempo desafia a humanidade: o que os vampiros defecam? :P

Os sanguessugas aqui são do tipo monstruoso, e não os mortos-vivos aristocráticos (ou que brilham ao sol) que estamos mais habituados. O vilão principal, inclusive, é mauzão pra valer! Além disso, muitas passagens de suspense e terror funcionam a contendo, e é possível sentir o coração acelerando e um ou dois calafrios (o que, convenhamos, é mais do que muitos outros livros de horror). Há passagens de uma inventividade que beira o genial, como aquela em que um astro de rock recém-contaminado vai limpar a maquiagem que usa nos shows (com olheiras negras e face pálida), apenas para descobrir que o rosto por baixo está quase igual! Infelizmente, tais aspectos são insuficientes para tornar a obra memorável.

Resumindo, Noturno não é um livro ruim. É gostoso de ler e é competente em diversos aspectos. Porém, é cansativo em algumas partes, e seus personagens não conseguem a empatia do leitor. Essa falta de empatia é até algo comum em livros do estilo, só que aqui fica faltando aquele "algo mais" que compensa a falta de personalidade dos heróis. Não sei o quanto a escrita à quatro mãos atrapalhou (ou ajudou) no processo, mas enfim, apesar de todos os poréns, fiquei curioso para ler a inevitável continuação (ao que parece, será uma trilogia). Só me resta torcer para que os próximos episódios sejam melhores.

Abraços!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Notícia triste: Morre o escritor Henry Evaristo

Infelizmente, Henry Evaristo faleceu neste dia 16. Para quem não conhece, ele era um dos escritores mais promissores da Internet. Escrevia contos no estilo clássico, histórias elegantes e bem trabalhadas. Eu já pretendia falar sobre seu blog A Câmara dos Tormentos, onde diversos contos seus (e de outros autores) podem ser lidos, porém sempre fui deixando para depois, para ir apresentando os escritores que eu gosto aos poucos... Infelizmente, só faço isso agora. Cliquem aqui e conheçam o excelente artista que partiu deste mundo, talvez para outro melhor.

Adeus, Henry. Não conhecia você direito, mas conhecia (conheço) seu trabalho. A notícia me entristeceu profundamente.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

UZUMAKI - A ESPIRAL DO HORROR, de Junji Ito (Volumes 1, 2 e 3)


Nos primórdios da nossa querida Biblioteca Mal-Assombrada (bom, pra mim ela é querida!), lembro que prometi falar não apenas de livros, mas também de quadrinhos de terror. Fiz tal promessa pensando num escritor em específico, que era simplesmente bom demais para deixar de comentar: o japonês Junji Ito. Hora de realizar essa pretensão, portanto.

Nascido em 1963, Junji Ito começou a desenhar inspirado pelos trabalhos da irmã mais velha e pelo Mangá Kazuo Omezu. Tomou gosto pela temática de horror e, quando mais velho, foi o vencedor do prêmio Kazuo, que prestigiava mangás daquele gênero. A partir daí, não parou mais. As perturbadoras tramas de Ito exploram acontecimentos sobrenaturais que gradualmente vão enlouquecendo as pessoas comuns, forças tão intensas e poderosas que é praticamente impossível escapar. O autor é conhecido por explorar seus temas ao máximo, espremendo até a última gota de cada conceito que inventa, mas nunca se tornando cansativo. Em Tomie, uma série em quadrinhos sobre uma garota que podia se regenerar (estou simplificando muito aqui), somos apresentados às mais grotescas formas que uma criatura poderia renascer, sempre levando à ruína aqueles que estão muito próximos. E se as tramas são ótimas, seus maravilhosos e detalhados desenhos completam o pacote, resultando em verdadeiras obras de arte.

Falemos então de Uzumaki, uma das obras máximas de Ito, que foi lançada no Brasil pela Conrad em 2006 em três edições (Cicatriz, Faron Negro e Caos). A história é narrada pela "fofíssima-que-dá-vontade-de-apertar" Kirie Goshima, moradora da cidade costeira de Kurozu-cho. A bela adolescente começa a contar sobre os estranhos eventos que se abateram sobre sua terra, que foi dominada por uma força sobrenatural e enlouquecedora. "Mas que bendita força é essa", pensa você; será um ataque de vampiros purpurinados? Um espectro vingativo e cabeludo, que escapa pelo ralo das pias? Um monstro genérico estilo godzilla, que sairá das profundezas do oceano? Nada disso, meus amiguinhos. A tal ameaça de outro mundo é simplesmente uma... forma geométrica! Mais precisamente, a espiral, conforme o subtítulo da H.Q entrega.

E por falar em entregar, permitam-me uma mudança no meu modus-operandi, pois vou trazer alguns spoilers (somente sobre o primeiro e segundo cápitulos do primeiro volume) nos parágrafos em verde. Isso é necessário para que você entenda a insanidade que é Uzumaki, e se interesse (ou não) pela obra. Caso não queira saber nada com antecedência, apenas pule as passagens esverdeadas, ok?

Na primeira história, nossa heroína está indo encontrar o namorado, o "insosso-com-cara-de-Harry-Potter" Shuichi Saito. No caminho, ela encontra alguém debruçado em uma viela, olhando fixamente para algo na parede. Pensando se tratar do pai do Shuichi, Kirie se aproxima e descobre que o homem parece hipnotizado pela concha de um caracol. Ela conta isso para ao namorado, que revela que seu pai parece ter adquirido uma estranha obsessão por espirais. De fato, o sujeito agora só fala sobre isso, além de ter abandonado o emprego para coletar objetos em forma de espiral. Em determinado momento, a mãe de Shuichi joga fora todas as traquitanas, porém seu marido não se dá por vencido. De alguma forma bizarra, ele descobre que consegue reproduzir sua amada forma geométrica com partes do seu próprio corpo! Após algumas grotescas exibições da nova habilidade, ele encomenda uma grande tina, que coloca no meio de seu escritório. E quando mãe e filho chegam em casa e abrem a tampa, se deparam com... Bem, se deparam com isto:

Em decorrência do acontecimendo fora do comum, a esposa do maluco adquire verdadeiro horror à espirais e, quando descobre que suas impressões digitais trazem o temido desenho, acaba resolvendo o problema de maneira pouco ortodoxa:


Sentiu o drama? E isso é apenas o ponto de partida, pois a partir daí, algo que será conhecido como "A Maldição da Espiral" passará aos poucos a tomar conta da cidade. A fumaça que sai do crematório preenche os céus em uma nuvem em forma de espiral (que por alguma razão desconhecida, desce até o lago que fica no centro da cidade); outras pessoas começam a ficar obcecadas por espirais, algumas sentindo pavor, outras experimentando adoração. Algumas morrem em decorrência de sua fixação, outras matam. A espiral funciona como uma metáfora para algo do qual não podemos fugir, pois sempre acabaremos chegando ao mesmo lugar. Assim, acompanhamos assassinatos, auto-mutilação, suicídios, paixões impossíveis, tornados, furacões e cidades destruídas, tudo isso entrelaçado com a sinistra maldição. Escapar de Kurozu é impossível, já que o próprio espaço-tempo se espiralou, impossibilitando qualquer tentativa de fuga... Ou será que os protagonistas encontrarão um meio de escapar?

Uzumaki é um festival de situações inusitadas e criativas, que abordam a loucura humana em meio às mais horrendas transformações corporais que alguém poderia imaginar. Embora muitos acontecimentos pareçam aleatórios a princípio, há diversas informações amarrando a trama, como os casebres misteriosos, o farol negro, a sirene que toca de tempos em tempos, etc. Detalhes que farão algum sentido no final lovecraftiano (tenho certeza que o autor dos Mitos de Cthulhu teria adorado ler Uzumaki). Aliás, o último volume da série é o meu preferido, pois é a partir daqui que as coisas se tornam literalmente grandiosas.

Há diversas passagens inesquecíveis na H.Q., cuja história é de uma criatividade e execução grandiosas (você não irá esquecer daquilo que existe dentro dos misteriosos casebres da cidade, após o furacão). O clima é de desesperança, que aos poucos se transforma em desespero. Claro, é preciso estar preparado as doideiras de Junji Ito, que trás situações que beiram às raias do absurdo. Além disso, seus personagens não são exatamente marcantes, já que seus roteiros privilegiam muito mais a insanidade que toma conta do ser-humano em meio ao Caos. Para completar, o desfecho apoteótico poderá não agradar a todos, já que não trás todas as respostas. Mas pessoalmente, acho que o grande barato do terror oriental é esse mesmo, de nunca entregar histórias "mastigadinhas" para o leitor, que precisa montar o quebra-cabeças e compreender à trama à sua maneira. Conforme disse muito bem o bloguista BruNêra (no blog Nerds somos Nozes): "Nessas arestas que sobram cabem direitinho nossos medos e paranóias, deixando a revista muito mais pessoal e única para cada um que lê."

Os desenhos de Junji Ito são um espetáculo à parte, trazendo soluções visuais que seriam um desafio intransponível para a maioria dos desenhistas. Aliás, a maior crítica que posso fazer às edições da Conrad é o tamanho das H.Q.s, em "formatinho", diminuto demais para que apreciemos todos os detalhes minuciosos das ilustrações. No entanto, acho que estou reclamando à toa e injustamente, por dois motivos: primeiro, porque não sei em que formato os mangás foram publicados originalmente; segundo, porque para fazer jus aos maravilhosos painéis do artista, seria preciso publicar em formato americano, de preferência encadernado. Contudo, creio que essa alternativa seria inviável comercialmente. Uma pena, mas o tamanho da revista não compromete a força do pesadelo delicioso e perturbador que é Uzumaki.

Para fechar, a informação triste é que o trabalho de Junji Ito parece não ter feito muito sucesso entre os brasileiros, que por algum motivo, preferem os mangás de horror de Hideshi Hino (autor de Panorama do Inferno, Serpente Vermelha e O Garoto Verme). Este também é um bom autor, porém seus desenhos não chegam aos pés do mestre Ito, suas tramas não alcançam um décimo da criatividade, e suas sequências chocantes parecem estar lá apenas pelo choque em si, enquanto os horrores e bizarrices de Junji Ito estão lá para servir à história, e não o contrário. É gore com conteúdo!

Enfim, caso você encontre Uzumaki em algum sebo, não perca a chance de adquirir essa obra prima (lembrando que foi publicada em três volumes). É um início perfeito para quem nunca leu um gibi de horror, e para quem está acostumado, é simplesmente indispensável.

Abraços, bom carnaval para todos!

"Escuta, tem alguma coisa no meu olho?"

sábado, 6 de fevereiro de 2010

PÁGINAS DE SOMBRA - CONTOS FANTÁSTICOS BRASILEIROS, vários autores (organização de Braulio Tavares)

Páginas de Sombra - Contos Fantásticos Brasileiros (Editora Casa da Palavra) , organizado por Braulio Tavares, é uma jóia bem polida para nós, fãs das narrativas sobrenaturais. A maioria dos contos é de uma qualidade ímpar, com tramas que chegaram a fazer parte do imaginário popular, além de outras que revelam muitos conceitos antiquados (do povo ou dos autores) desse nosso país. Para não escapar à tradição, falemos um pouco sobre os contos:

Flor, Telefone, Moça, de Carlos Drummond de Andrade, já começa o livro detonando e dando uma voadora no peito do leitor (metaforicamente falando, não se preocupem)! Na história, uma menina passeia toda lépida por um cemitério, pensando na vida, quando resolve arrancar uma florzinha que crescia sobre um túmulo. Ela cheira o indefeso vegetal, joga fora e logo esquece do assunto. Mas quando volta para casa, uma ligação telefônica faz com que relembre de imediato. "Quede a flor que você roubou da minha sepultura?", diz a voz ao telefone. Pensando que é uma brincadeira, a garota desliga, mas a pessoa insiste, ligando todos os dias... Enfim, esse conto é tão impressionante que virou lenda urbana, com muita gente jurando que a história é verdadeira e aconteceu com uma "prima de uma amiga de um vizinho". Pois é, não foi só o Ambrose Bierce que criou lendas urbanas sem querer.

A Podridão Viva, de Amândio Sobral, foi escrita numa época em que o continente Africano ainda não estava muito bem desbravado; isso serve para contextualizar o conto, sobre uma expedição ao continete Africano que se depara com uma criatura aterradora, conhecida por matar elefantes para se alimentar. História muito boa, a despeito da descrição preconceituosa dos nativos (algo muito comum em histórias antigas e que, infelizmente, não é impossível de verificar nos dias de hoje. Mas o mais provável é que o autor não tenha feito por mal).

Teleco, o Coelhinho, é o típico conto delirante de Murilo Rubião, um autor bem conhecido no Brasil (ele é uma constante naquelas coleções estilo "Para Gostar de Ler"). A história começa com um sujeito olhando o oceano, quando uma voz insistente começa a pedir um cigarro; julgando tratar-se de um moleque de rua, ele se vira para afastar o pedinte, mas se depara com um... Coelho falante! E um coelho que fala coisas tão extraordinárias, que o narrador fica impressionado por achar que o bicho tem "mais idade do que aparenta" (hilário!). Enfim, só lendo pra entender.

Em A Última Eva, Berilo Neves escreve sobre uma epidemia que matou todas as mulheres do planeta. Antes, um adendo: um dos temas recorrentes do autor era "o mundo dominado pelas mulheres", o que rendeu diversos contos futuristas em seus livros "A Costela de Adão" e "Século XXI". Seus contos são essencialmente misóginos (embora com certa ironia), e isso não é diferente na história em questão, onde o sumiço das mulheres é lamentado principalmente porque elas eram "belos objetos de adorno"; mas enfim, ao encontrarem apenas uma mulher viva no Brasil, o governo resolve vendê-la para os Estados Unidos. Porém, lá acontecem tantas desgraças por causa dessa compra, que os americanos pagam ao governo brasileiro para aceitar a devolução da moçoila! Enfim, o conto em si não é lá essas coisas, mas até que diverte (desculpem por essa, meninas! Ah!).

Já falei dos primeiros contos, agora vou pular alguns para não entregar todo o jogo: A Escuridão, de André Carneiro, trás um tema clássico das narrativas fantásticas: um mundo onde todas as pessoas ficam cegas de repente (se você achava que Ensaio sobre a Cegueira era inovador em seu ponto de partida, sinto desapontá-lo, he he). Nessa situação, as pessoas que já eram cegas antes do evento se tornam guias dos novatos, e vamos aos poucos acompanhando a nova rotina de um grupo que tenta sobrever à provação. Simplesmente um primor!

O Caminho do Poço Verde, de Rubens Figueiredo, é a história mais angustiante da coletânea, narrando a caminhada de uma garota chamada Diana pelo interior. A coitada queria apenas fazer uma excursão, porém um estranho mal parece tomar conta de seu corpo. Impotentes, acompanhamos sua andança rumo ao destino final, numa trama que une desesperança com cenários tipicamente rurais. Sutilmente, o conto mostra a estranheza que os moradores das metrópoles sentem ao viajar para o campo, um mundo que lhes parece exótico e quase alienígena. Muito bom.

As Formigas, da grande Lygia Fagundes Telles, é uma história bastante conhecida, pois os professores do segundo grau obrigam os estudantes a ler trabalhos da escritora. É uma pena que esse método acabe deixando os alunos de má-vontade, impedindo que apreciem uma narrativa maravilhosa a contendo. Na trama, duas colegas que dividem um quarto de pensão se deparam com um acontecimento inexplicável: o morador anterior, estudante de medicina, deixara no recinto um caixote com ossos, tão pequenos que devem ter pertencido a um anão; então, durante a noite, formigas invadem o aposento para mover os ossos, de uma maneira inquietante... O final é de gelar os ossos (os seus, não os do anão)!

Os Olhos que Comiam Carne, de Humberto de Campos, trata de mais uma constante no gênero fantástico: alguém que passa a enxergar através dos materiais, incluindo os tecidos humanos. Porém, logo descobrimos que "visão de raio-x" é coisa só para o Super-Homem mesmo.

Por fim, a coletânea termina com a "quase" obra-prima Demônios, de Aluísio Azevedo. No conto, um rapaz está entediado em seu quarto, escrevendo, quando a luz se apaga. Mas não apenas a luz no recinto, mas aparentemente, na cidade inteira (olha o tema da cegueira mundial de novo!); apavorado, ele sai andando pelas ruas totalmente vazias, tateando pelas trevas em busca da casa de sua amada. Narrativa que beira à perfeição, não fosse um porém: o final broxante, mas típico da literatura da época. Bem, quem relevar vai gostar.

Enfim, Páginas de Sombra é diversão garantida, não apenas por trazer contos muito bons, mas também por mostrar um panorama dos conceitos (e preconceitos) de tempos idos, além de características de correntes literárias mais antigas, que muitas vezes relutamos em conhecer. Embaladas por um tema tão sedutor, fica muito mais fácil se aventurar por essas histórias maravilhosas.

Boa leitura!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Prorrogado o prazo para participação da antologia Zumbis - Quem disse que Eles estão Mortos?


Pessoal, o prazo para tentar participar da coletânea sobre os adoráveis cadáveres semoventes foi prorrogado para 01/03/10. Se você tem uma boa idéia para uma história de zumbis, não deixe de participar. O regulamento pode ser lido em www.cranik.com/zumbis.html . Abraço!