sexta-feira, 31 de julho de 2009

Território V já está em pré-venda!!!


Esta belezinha (meu Deus, que capa maravilhosa!) já pode ser adquirida clicando aqui. Para quem não sabe, trata-se de uma coletânea organizada com extremo cuidado pelo premiado escritor Kizzy Ysatis, com alguns dos melhores autores da atualidade. Segue a sinopse:

"Nesta seleta organizada por Kizzy Ysatis, a discórdia é pano de fundo para o exercício da criatividade de vinte escritores. Traição, disputa de território, amor, ódio, ciúme, vileza, ego e existencialismo lhes servem de matéria-prima para o desafio de provar que vampiros são seres solitários, que não se dão entre si."

Segue um trailer do livro, para deixá-los com água na boca:



Ah, e pra quem quiser tentar a sorte e ganhar um exemplar grátis, é só entrar no blog da Terracota (clique aqui) e participar!

Eu que não confio na sorte já reservei o meu! Abraços!

ALEGRES MEMÓRIAS DE UM CADÁVER, de Roberto Gomes


Quando encontrei Alegres Memórias de um Cadáver (Edições Criar, 1987) em um sebo curitibano, fui logo ler a orelha do livro para saber do que se tratava. Vou transcrever o trecho inicial dessa pequena apresentação:

"Uma das parábolas mais bem realizadas a respeito da realidade brasileira contemporânea. Alegres Memórias de um Cadáver, apesar do título, não se filia nem ao romance picaresco nem ao chamado realismo fantástico latino-americano. Sob a estrutura típica de um romance realista, com uma pitada importante de humor, referente ao cadáver a que alude o título, a obra de Roberto Gomes, a partir do microcosmo de uma universidade situada em Curitiba, de onde vem o escritor e filósofo, situa uma lúcida análise do macrocosmo social nacional."

Ainda acordado, leitor? Bem, não sei você, mas eu imaginei que o livro devia ser uma chatice ao ler essa descrição rebuscada. Mesmo assim, arrisquei e comprei a obra, achando que havia uma mínima chance de ser interessante. Quem diria, o livro acabou se revelando um dos mais legais que já li!

A trama pode ser resumida da seguinte forma: o corpo de um bibliotecário é contrabandeado para o departamento de medicina de uma universidade e, após uma aula de anatomia, acorda na escuridão noturna em seu tanque de formol; a princípio rígido como... bem, como o cadáver que é, ele aos poucos consegue se levantar e caminhar pelo local, perguntando-se se o além-vida é aquilo mesmo. Seu amor pela leitura o leva à biblioteca, onde fará suas leituras noturnas (incluindo, ironicamente, o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas). Pois bem, acontece que a tal faculdade é controlada pelo vice-reitor Gregório, homem ignorante, violento e misógino, que toma para si o controle da instituição (passando por cima do reitor molenga); para Gregório, o verdadeiro poder é o medo. Dessa forma, a universidade acaba assumindo ares de ditadura militar (a história se passa nesse período negro), com estudantes oprimidos que não sabem muito bem contra o que lutar. Mas os boatos de que um cadáver se levantou para ler os livros da biblioteca revela-se uma prova inequívoca de que a ordem pode ser desafiada, provocando o caos e dando força aos universitários para manifestarem sua revolta contra a instituição (o que, por sua vez, desperta o poder repressivo da própria universidade/estado).

Sim, sim, tudo parece politizado demais, no entanto, a narrativa irônica e saborosa de Roberto Gomes vai muito além da fábula política: o cadáver acaba se tornando um herói não apenas dos estudantes revoltados, mas também do leitor que compartilha com o defunto sua paixão pela literatura! É um prazer imenso ver como o personagem consegue burlar e fazer o sistema de bobo, enganando a segurança e o poder instituído. No final, o livro funciona não só como uma homenagem à literatura, mas também ao gênero terror; acredito que esta homenagem pode ter sido involuntária, mas há um trecho na obra (não posso revelar aqui) que deixa todos, sejam leitores em geral ou aficionados pelo horror, com um sorriso de orelha a orelha.

Concluindo, Alegres Memórios de um Cadáver é uma delícia: engraçado, mordaz e tenso, este é um livro direcionado para todos os amantes das letras. Uma palavra para resumir? Leia.

Abraços!

666 - O LIMIAR DO INFERNO, de Jay Anson



Se há uma palavra boa para definir o livro 666 - O Limiar do Inferno (Editora Melhoramentos cedida para o Círculo do Livro, 1981) , essa palavra seria "burocrático". A história é basicamente a seguinte: após voltar das férias, um casal (Keith e Jennifer) se surpreendem ao encontrar uma casa no terreno atrás de sua residência, um casarão em estilo vitoriano que não poderia ser construído em apenas 10 dias (a história se passa muito antes da existência do programa Extreme Makeover - Reconstrução Total, he he). Logo, eles descobrem que a casa foi transportada inteira até ali, levando consigo uma aura de mistério e um passado sinistro. Como um bom personagem de horror, Keith vai investigar o local, descobrindo fatos estranhos que parecem ter ligação com sua própria vida (para uma descrição mais elaborada da trama, basta clicar aqui).

O ponto de partida é interessante, contudo, o desenrolar da história segue de maneira certinha e bonitinha demais, quase como se o autor Jay Anson (do excelente e polêmico Horror em Amityville) tivesse seguido a cartilha de vários livros de terror dos anos 80: um mistério, investigações, acontecimentos estranhos, paranóia, brigas familiares e um desfecho exagerado e abrupto. Essa receita funcionou de maneira bastante satisfatória em outros livros (como o já citado Horror em Amityville), porém não foi tão eficiente aqui. Não há nada digno de nota em 666, nenhuma situação realmente interessante, nada que cause arrepios ou tensão real. Enfim, é uma obra que certamente irá agradar o leitor médio, aquele que gosta de um terror limpinho e pouco aterrorizante, que não vai deixá-lo com medo de apagar as luzes depois da leitura. Já para o aficionado pelo gênero terror provavelmente achará o livro apenas médio (para não dizer medíocre).

Enfim, 666- O Limiar do Inferno pode até ser o livro ideal para alguém que está dando seus primeiros passos na literatura de horror (ou então, é uma boa opção para presentear aquela sua tia-avó que gosta de sentir um medinho), porém, há muitos livros beeeem melhores para os fãs do gênero.

Abraços!

sábado, 25 de julho de 2009

AMOR VAMPIRO, vários autores


Amor Vampiro (Giz Editorial, 2007) reúne sete escritores de renome na literatura fantástica nacional e um tema em comum: o amor e os vampiros. Esse mote, que parece tão limitador a princípio, gerou histórias totalmente distintas e, no final das contas, a única coisa em comum é a (alta) qualidade dos contos.

A obra abre com três histórias de Adriano Siqueira, O Outro Lado do Espelho, O Dia dos Vampiros e A Grande Chance. A escrita de Adriano é leve, privilegiando a ação e acontecimentos em ritmo alucinante, com um clima que lembra os divertidos filmes de terror dos anos 80. Dos três contos, O Dia dos Vampiros é o que mais agradou, em vista do desfecho excelente.

Depois, vem A Canção de Maria, do (mais que) conhecido André Vianco, sobre um homem rústico que vivia muito sossegado até acolher uma mulher e filha em sua casa. Vianco escreve muito bem, e sinceramente não entendo as pesadas críticas que lemos sobre ele em grupos de discussão. Pelo que pude constatar, o autor é criticado por seus primeiros livros que, ele mesmo admite, ainda careciam do apuro técnico que foi dominando com o tempo. Nada mais natural, convenhamos. Enfim, de todos os contos do livro, este é o que melhor funciona como terror, trazendo momentos de gelar o sangue.

Em seguida, temos a grande Martha Argel com A Flor do Mal, uma história que mostra como os princípios do homem mais obstinado podem ser dobrado pela mulher certa ( ou no caso, a vampira certa). Este conto poderia dividir espaço sossegadamente em uma coletânea que reunísse autores como Henry James, Guy de Maupassant e Theóphile Gautier. Não estou exagerando, Martha atingiu um nível de excelência tão grande nessa escrita "de época", por assim dizer, que A Flor do Mal remente aos autores clássicos do gótico e do fantástico.

J. Modesto segue a mesma linha clássica no conto Amante Notívago, com uma trama de intenso mistério e erotismo. Seu outro conto, O Anjo e a Vampira, é uma fábula mais contemporânea, com uma boa dose de crueldade sob a superfície aparentemente ingênua.

Nelson Magrini escreve Isabella, uma tocante história que envolve uma predadora e um cientista, trazendo uma questão interessante: há salvação para uma criatura noturna?

Regina Drummond continua com A Velha, o Jovem e o Casarão, um conto que investe no mistério e nos pequenos detalhes, que vão se revelando aos poucos para formar o quebra-cabeças.

Por fim, Giulia Moon fecha o livro com chave de ouro, naturalmente. Seu conto Dragões Tatuados, sobre um investigador que persegue uma bela vampira oriental, originou a idéia para o romance Kaori, que está para ser publicado em breve. Será a primeira história longa de Giulia Moon, e estou particularmente ansioso por isso. Após ter escrito alguns dos melhores contos de terror que já tive o prazer de ler (incluindo o presente nesta coletânea), tenho certeza que a escritora vai fazer bonito com mais espaço para desenvolver personagens, trama e situações.

Enfim, Amor Vampiro é uma antologia que reúne apenas bons autores, com contos acima da média (sendo que muitos são realmente excelentes, e uns dois podem ser considerados obras-primas). Um livro obrigatória para quem quer conhecer alguns dos melhores autores da literatura fantástica nacional.

Abraços!

domingo, 19 de julho de 2009

Terrorzine 11 e Entrevista do Ademir Pascale

Saiu mais uma edição da Terrorzine, a revista virtual com minicontos de terror, organizada por Ademir Pascale. Essa edição conta com um singelo miniconto meu, O Hipnotizador. Espero que gostem! Ah, além dos minicontos, a Terrozine também trás entrevistas e dicas de livros! Segue o link:

http://www.cranik.com/terrorzine11.pdf

Obs. Ah, aproveitem para ler a entrevista do Ademir no site Biblioteca dos Vampiros (e não é pra me gabar, mas reparem um dos nomes que ele cita como uma das grandes promessas na literatura de horror, he he he). Segue o link:

Entrevista do Ademir Pascale

Abraços!

sábado, 18 de julho de 2009

MEG, de Steve Alten


Ok, ok, já analisamos muitos livros com histórias clássicas de autores consagrados, tomos obscuros de artistas injustiçados e outras coisas do tipo. Já está na hora de deixar a seriedade um pouco de lado e falar sobre livros mais descompromissados ou, como gosto de definir, os "Trash-Books".

MEG, de Steve Alten, é aquela típica história de "animal gigante assassino" que faz a alegria de tantos amantes do horror. A trama é marítima, porém, ao invés de fazer uso do corriqueiro tubarão branco (do famoso livro Tubarão, que inspirou o clássico filme de Steven Spielberg) ou outro de seus parentes menos encorpados, Steve Alten escreve sobre a maior espécie de tubarão que já existiu nesse planeta: o Megalodon! Com um comprimento estimado entre 15 a 20 metros, esse monstro viveu entre 20 a 1,5 milhões de anos atrás, ou seja, talvez tenha contemporâneo dos primeiros seres humanos (e chega de curiosidades científicas, que aqui não é lugar para isso. Quem quiser saber mais sobre o bichinho e também ver umas ilustrações legais sobre ele, é só verificar o post que fiz sobre o Megalodon no blog O Trem Fantasma).

Vamos à história: após um desastre ocorrido durante um mergulho na Fossa das Marianas (o ponto mais profundo do oceano) o cientista Jonas Taylor é resgatado como o único sobrevivente da missão. Ao relatar que o submarino foi atacado por um tubarão gigante, o pobre-coitado (o cientista, não o tubarão) cai em descrédito. Porém, ele precisa enfrentar o passado e voltar até o local do incidente, onde algo ainda mais catastrófico irá acontecer!

Bem clichê, não? Sim, com certeza, mas ainda assim, divertidíssimo! Sabem aqueles filmes de monstros que a gente assiste, dá umas risadas, leva alguns sustos e esquece meia-hora depois que acabou? MEG é a versão impressa dessas películas deliciosas; apesar da trama ser estapafúrdia, os detalhes técnicos e biológicos são detalhados com apuro (algo bem típico de filmes trash, que sempre se levam a sério); os personagens são clichês, as cenas de ação são exageradas ao máximo (você vai ver o Megalodon matando uma baleia, perseguindo um surfista entre ondas gigantes, afundando dezenas de barcos, etc) e alguns erros crassos são escritos na maior cara de pau (na introdução do livro, que se passa há 70 milhões de anos atrás, vemos um Megalodon atacando um Tiranossauro Rex, sendo que as duas espécies nunca foram contemporâneas!!!).

Enfim, se o escritor não soubesse levar a história da forma adequada, isso tudo seria um desastre; porém, a escrita empolgante e leve de Steve Alten dá aquele clima de filme dos anos 80, as cenas de ação e sangueira convencem e até os personagens são divertidos. Aliás, algo que achei muitíssimo interessante no livro foi a forma encontrada para justificar a existência do Megalodon nos dias atuais; não dá pra explicar, só lendo pra entender, mas uma coisa eu afirmo: é genial! E a maneira que o monstro escapa das profundezas para águas menos profundas é simplesmente fantástica!

Mas é claro, é uma história besta e alguns detalhes quase estragam a experiência. O pior de tudo é o clímax, tão absurdo que chega a destoar do restante da história (que seguia num absurdo mais aceitável e padronizado), mas não importa: no final das contas, MEG é entretenimento puro para aqueles que gostam de histórias de animais gigantes homicidas (ou seja, para aqueles que possuem o senso de humor adequado). Não é a toa que há um projeto para transformar o livro em filme (o roteiro já passou pelas mãos de Jan de Bont e Guillermo del Toro), que ainda está meio estacionado. Vamos torcer para que se concretize algum dia.

Ah, aqui vai o detalhe realmente embaçado para aqueles que se interessaram pela obra: o livro não foi publicado aqui no Brasil, porém é possível encontrar a tradução feita em Portugal, da editora Círculo de Leitores. Sim, sim, o livro está no português de Portugal, mas não tem problema, não é tãããooo diferente assim. Só um detalhezinho ou outro, ora pois! Rsrsrs.

E é isso. Abraços!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Convites!!!

Atenção paulistas vampiromaníacos, dois convites de lançamentos de livros para o mês de agosto!

Primeiro, o convite para prestigiar o lançamento do Draculea - O Livro Secreto dos Vampiros. Organizado por Ademir Pascale, o livro reúne 27 autores, incluindo este que vos fala. Infelizmente, não poderei estar lá. Mas quem tiver a chance, não perca, vai ser muito legal! Já tive a chance de ler o livro, e garanto, há histórias fantásticas nele! Detalhes do evento na imagem abaixo:


E também, um convite para o lançamento do Território V - Vampiros em Guerra, organizado por Kizzy Ysatis! O livro será lançado no Dia dos Vampiros (13 de agosto), e tenho certeza que a seleção está impecável! Detalhes na imagem abaixo:


E por enquanto é só! Abraços!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

ANTOLOGIA MACABRA, organização de Peter Haining

Antologias de terror são, muito naturalmente, compostas de autores conhecidos do gênero terror. Porém, você já imaginou uma antologia de contos de horror feita exclusivamente com autores conhecidos por outros gêneros literários? Mais do que isso, imagine uma antologia de horror feita apenas com autores conhecidos como “sérios”, que teoricamente passaram a vida inteira longe dessa literatura tão “frívola e infantil” (conforme a maioria dos críticos literários parece pensar). Pois bem, essa seleção de contos existe, e chama-se Antologia Macabra (Editora Nova Fronteira, 1972).


Segundo o organizador Peter Haining, a idéia surgiu quando ele encontrou, numa revista vitoriana, um conto de Sir Winston Churchill chamado Homem ao Mar. Encontrar um conto desconhecido do famoso primeiro-ministro já foi uma surpresa, porém não tão grande quanto a constatação do gênero do conto: era uma história de terror! Enfim, Winston Churchill foi escritor, jornalista, historiador, orador, o diabo a quatro, e em algum momento de sua vida escreveu uma história sinistra! Segue a transcrição de um trecho da introdução do organizador:


“À medida que fui lendo, começou a tomar forma em minha mente a idéia para uma antologia. Se um homem como Sir Winston Churchill, escritor notável entre seus muitos atributos, tinha tido a inspiração de escrever uma história macabra, com certeza deveria ter havido outros, talvez mesmo homens mais totalmente envolvidos na vida literária do que Sir Winston, mais conhecidos das platéias mundiais de leitores em campos que não a ficção de terror. Mesmo que suas motivações para a criação de tais histórias não passassem de um relâmpago de inspiração sombria, engendrada uma só vez e jamais repetida, ainda assim, que divertida e única reunião de contos não fariam eles.”


Sim, a idéia foi boa, e sim, essa reunião de contos é diversão pura.


Após uma verdadeira escavação literária, Peter Haining encontrou algumas obras-primas do horror feitas por escritores tradicionais, como William Faulkner, F. Scott Fitzgerald, Raymond Chandler, Truman Capote, Agatha Christie e outros mestres de seus respectivos gêneros. Aparentemente, muitos autores da chamada “elite” se aventuraram pelas escuras vielas do horror, indicando que, ao contrário dos críticos literários, os grandes nomes da literatura deviam apreciar (talvez secretamente) leituras menos “edificantes”, como H.P. Lovecraft, Ambrose Bierce, Edgar Allan Poe e outros grandes nomes desse nosso gênero tão querido.


Falarei rapidamente sobre alguns dos contos: Mata, de JohnGalsworthy, mostra o que acontece quando um inglês esnobe vai dar um último passeio no bosque que pretende vender (vocês sabem, os novos donos talvez não queiram transformar aquilo em um refúgio ecológico, e as árvores podem se revelar um tanto quanto vingativas); Animais ou Gente, de Angus Wilson, é uma divertida sátira ao hábito de certas pessoas tratarem seus animais como pessoas; A Porta de Bronze, de Raymonde Chandler, mostra a perturbadora possiblidade de alguém literalmente sumir com seus desafetos; Complexo de Inferioridade, de Evan Hunter, trás um personagem levemente paranóico, que desconfia (talvez com razão) que algo muito estranho está acontecendo em sua vida.


Todos os contos do livro são bons (uma relação completa dos títulos e autores pode ser conferida aqui), alguns excelentes, outros nem tanto, porém todos têm suas qualidades. Mas particularmente, acho que Homem ao Mar, o conto que deu origem à antologia, é tão maravilhoso que as outras histórias empalidecem em comparação. O título já diz muita coisa, então contar qualquer detalhe é estragar a experiência. A única coisa que posso dizer é que esse conto é um diamante lapidado, perfeito em ritmo, tamanho, desfecho, enfim, cada palavra. É o primeiro conto do livro, então sugiro que deixem ele para o final.


Concluindo, os contos de Antologia Macabra merecem ser conhecidos não apenas pela qualidade de cada um deles, mas também pela curiosidade de ver autores do mainstream se aventurando pelo horror. Uma pena que não vieram outras seleções nesses moldes, pois segundo o organizador, ficaram de fora contos de Ernest Hemingway, Aldous Huxley, Pearl S. Buck... Afff, dá água na boca só de pensar!


Mas por enquanto é isso. Abraços, boa leitura para todos!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Contos vencedores do Concurso Escritores de Terror!

Pessoal, o Concurso Escritores de Terror (que organizei junto com a colega Me Morte) chegou ao fim há alguns dias. Três excelentes histórias foram escolhidas, agora é o momento de compartilhá-las com vocês. Basta clicar aqui para apreciar essas pequenas obras-primas.

Obs. Reparem que um dos vencedores é nosso amigo L. F. Riesemberg!

Abraços!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

DENTRO DA NOITE, de João do Rio (Crítica de L.F.Riesemberg)


Dentro da Noite

Esta resenha é para quem achava que Noite na Taverna era a única obra clássica da literatura brasileira considerada como sendo de terror. Na verdade há vários dos nossos grandes autores que adicionaram aos seus textos uma pitada do sobrenatural ou afins, incluindo Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. Mas o livro que pretendo apresentar desta vez aqui na Biblioteca Mal Assombrada é o subestimado Dentro da Noite, de João do Rio (1881 - 1921).

Bem, mas antes de tudo, quem é esse cara? João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (ufa!), cujo pseudônimo mais conhecido era João do Rio, foi um jornalista da cena carioca no início do século XX (a chamada Belle Époque brasileira). Mulato, obeso e homossexual (o que me força a encará-lo como uma espécie de Truman Capote tupiniquim), ele sentiu na pele o preconceito pelas suas diferenças, sendo desprezado publicamente por várias personalidades e até mesmo vítima de uma covarde agressão física quando foi agredido, enquanto almoçava, por um grupo de nacionalistas. Mas, ainda assim, ele convivia com a classe alta da época, e chegou até a ocupar uma cadeira da Academia Brasileira de Letras!

Talvez tenha sido por causa desse paradoxo, de luxo e notoriedade versus desprezo e marginalidade, que seus textos tenham oscilado tanto entre uma faceta e outra: se normalmente ele preferia usar uma linguagem elegante e rebuscada, cheia de expressões em francês, como era a moda na época, às vezes ele partia para o grotesco, descrevendo as cenas chocantes que ocorriam nos cantos mais sujos da cidade.

Pois é esse o clima de Dentro da Noite, lançado em 1911, que reúne onze “contos negros”, já publicados anteriormente em jornais, e outros sete inéditos. Podemos dizer que as semelhanças desta com a obra de Álvares de Azevedo que citei no início do texto não se resumem à palavra “noite” no título. Trata-se de uma coletânea de relatos urbanos sensuais, sórdidos e fúnebres, mas ao contrário do clima essencialmente europeu da obra de Álvares de Azevedo, João do Rio adicionou alguns elementos bem brasileiros às suas páginas.

O Bebê de Tarlatana Rosa, por exemplo, passa-se em uma data muito representativa para nós: o carnaval. É quando o protagonista, disposto a frequentar vários bailes da cidade em busca de todos os tipos de excessos, envolve-se com uma misteriosa foliã fantasiada que nunca retira o nariz de borracha que lhe esconde o rosto. Somente depois de ter passado algumas noites de luxúria com a moça é que ele saberá o motivo, para sua cruel infelicidade. Posso dizer que o final dessa história é um dos mais chocantes que já conheci.

O Carro da Semana Santa já traz uma espécie de lenda urbana, sobre uma misteriosa carruagem que anualmente faz uma verdadeira peregrinação durante a semana santa, permanecendo estacionada próximo a todas as igrejas da cidade, com algo muito estranho acontecendo em seu interior.

E o melhor conto de todos certamente é o que dá título à obra, sobre um homem que perde tudo graças a uma estranha obsessão que lhe atormenta: a necessidade de espetar agulhas e alfinetes nos braços de sua noiva e, mais tarde, em desconhecidos no metrô. Acho que poderíamos fazer uma interessante analogia deste personagem com um vampiro.

Mas infelizmente nem tudo é perfeito. Há casos como o de Aventura no Hotel, que traz uma datada e insatisfatória trama policial, totalmente previsível, envolvendo o desaparecimento dos pertences de alguns hóspedes. Aliás, João do Rio caiu em uma armadilha criada pela sua própria popularidade: com modismos demais empregados em seu texto, a crítica simplesmente o rejeitou e seu nome ficou esquecido durante muito tempo. Apenas recentemente é que ele foi redescoberto e voltou a ser discutido no ambiente acadêmico.

Ainda assim, apesar dos deslizes, há vários contos que merecem ser conhecidos pelos fãs de horror. Além dos que citei, são obrigatórios: História de Gente Alegre, que apresenta a trágica paixão - movida à morfina - entre duas prostitutas; A Mais Estranha Moléstia, sobre um jovem atormentado por um olfato anormalmente aguçado, e A Peste - outra incursão pelo grotesco, com descrição de deformidades físicas.

Dentro da Noite já foi descrito como “a maior coleção de taras e esquisitices até então publicada na literatura brasileira”. Seus contos tratam de diversas deformações sensoriais, inclusive sadomasoquistas, e seu clima opressivo e apavorante é cercado de sensualidade e elementos góticos.

Para quem se interessou pelo conteúdo, uma boa notícia: esta publicação já é de domínio público, e pode ser facilmente encontrada na internet, disponível para download gratuito. Mas não adianta procurar outros livros do autor neste mesmo estilo: Dentro da Noite é diferente de todo o resto de sua obra, que inclui muitas crônicas jornalísticas e até histórias infantis (o que comprova minha obsessão por escritores que variam seu trabalho entre o mundo dos adultos e o das crianças).

L.F. Riesemberg