quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entrevista: L.F. Riesemberg


Para quem acompanha a Biblioteca Mal-Assombrada, nosso primeiro entrevistado dispensa apresentações. Escritor vencedor de vários concursos litetários e autor do excelente Grafias Noturnas, nosso eventual colaborador aceitou responder as perguntas deste bibliotecário que vos fala (e não esqueça de participar do concurso que ele está organizando, clique aqui e veja as instruções). Sem mais, a entrevista!

Olá, Riesemberg. Seja bem vindo à primeira entrevista da Biblioteca Mal-Assombrada! Puxe um banco e relaxe. Sim, pode tirar o esqueleto dessa cadeira, ele não vai se importar. E então, alguma coisa mudou em sua vida após o lançamento de Grafias Noturnas?

Sim e não. Por um lado eu me sinto aliviado por finalmente ver meus contos sendo lidos por tanta gente, mas ao mesmo tempo não consigo parar de pensar em lançar mais um livro, que deve ser maior e melhor que o primeiro.

Fale um pouco sobre seus projetos futuros.

Já estou trabalhando no primeiro conto pós-Grafias Noturnas, e me divertindo muito, brincando com metalinguagem. Provavelmente estarei com uma quantidade razoável de histórias para lançar mais um livro daqui alguns meses.

Quando iremos ler um romance de L.F. Riesemberg?

Isso eu também quero saber. A ideia era fazer com que esse fosse meu próximo projeto, mas sinto que ainda tenho muitos contos querendo sair da minha cabeça para mergulhar no papel. Além disso, não acho que já esteja preparado para um trabalho assim, que exige muito mais tempo e cuidado. Se for para lançar um romance, eu mesmo vou ter que achar que ele está ótimo, e minha críticas são muito severas.

O conto O Botão parece inspirado em Button, Button, de Richard Matheson, mas a história segue um rumo diferente. Às vezes, quando você está lendo uma história ou vendo um filme, sua mente começa a viajar em desdobramentos diferentes daqueles mostrados na trama, e a partir disso você tem idéias para novos contos? (Faço essa pergunta por que isso acontece comigo...)

Na verdade, a respeito de O Botão, eu me inspirei no episódio de Além da Imaginação que por sua vez foi baseado no conto que você mencionou. O assisti quando eu tinha uns 7 anos de idade, e aquela história foi tão forte para mim que eu ainda me lembrava vinte anos depois. Escrevi o conto quando precisava enviar para um concurso literário e estava sem ideias. Horácio Quiroga diz que, no início da carreira, não é pecado copiar algum mestre. O próprio Richard Matheson, ao escrever Button Button, se inspirou fortemente em A Pata do Macaco. Na época eu estava nesta fase, de copiar os mestres, mas hoje sinto que já não uso referências tão óbvias para escrever. Ah, sim, e O Botão ficou com o primeiro lugar daquele concurso.

O Balanço é um conto sobre amadurecimento e fim da infância. Você acha que, para ser escritor, é preciso manter um pouco da infância ainda viva?

Totalmente. Pelo menos o escritor deste gênero literário que eu me proponho a seguir. Quando estou escrevendo, não estou fazendo nada além do que eu já fazia na infância, que era brincar, criando todos os dias novos heróis e diferentes histórias.

Riesemberg exercitando seu lado infantil. Só não dá pra ver a fila de crianças chorosas esperando a vez.

A Lei de Lavoisier (Aplicada à Arte) trata de temas interessantes para quem é escritor. Conte-nos um pouco sobre as frustrações da arte da escrita, que você expôs nessa história. Aproveite para falar sobre o processo criativo, da ideia até a execução.

Eu escrevi esta história justamente como uma justificativa para as críticas que eu imaginei que receberia depois que notassem as semelhanças entre A Cápsula do Tempo e o início do filme Presságio. Escrevi aquela história em 2004 (e ganhei um prêmio por ela em 2005), e o filme é de 2009, mas as pessoas são bem incompreensivas neste aspecto. Não é raro um escritor criar uma história muito parecida com alguma que ele nem sabe que já existe. É por isso que temos que ler, ler e ler, conhecendo cada vez mais autores, principalmente os clássicos, para não sofrer este problema. A Lei de Lavoisier trata principalmente de literatura em vários aspectos (da criação ao mercado editorial) e aproveitei para homenagear as bibliotecas e algumas obras que gosto muito. Sobre o meu processo criativo, eu diria que é constante. É claro que há fases em que não escrevo, mas quando estou voltado para isso, eu aproveito qualquer tipo de interferência (uma conversa na rua, o trecho de um filme, uma música) para originar uma ideia. Depois eu a anoto em um caderno de rascunhos que mantenho em meu quarto, e mais tarde ela pode se transformar em uma nova história.

Como você faz para lidar com eventuais “becos sem saída” em seus contos? Já teve algum obstáculo em um conto que estava escrevendo, que se revelou intransponível?

Quando me vejo em uma situação destas, não vejo outra alternativa senão recomeçar tudo do zero. Eu faço uma grande crítica ao Stephen King porque ele não é assim. Quem leu Christine deve ter estranhado o fato de o livro começar em primeira pessoa e depois passar para a terceira voz. Aparentemente, depois de escrever dezenas de capítulos, o autor percebeu que não dava para continuar narrando daquela forma, e mudou tudo, sem dar explicações ao leitor. Se fosse comigo eu teria jogado tudo no lixo e recomeçado o romance, por mais que isso demorasse. Isso já aconteceu comigo dezenas de vezes. O próprio A Lei de Lavoisier era para ser bem diferente. Eu já havia escrito páginas e mais páginas, mas chegou a um ponto que eu disse: “Isso aqui está ficando chato!”. Então recomecei a escrever a história, mudando todo o direcionamento. E o resultado você conhece.

A Presa e o Predador parece ser um conto bastante pessoal. Você acha que pensamentos negativos, como os do personagem principal, podem trazer algum tipo de consequência no futuro?

É claro que sim. Pensamentos negativos atraem coisas negativas, e vice-versa. Este conto é, entre outras coisas, sobre a imprevisibilidade do ser humano. Alguém pode até ser frágil e introspectivo, mas pode se transformar em um monstro quando acuado, se ficar alimentando ideias fixas. Temos notícias de tantos adolescentes que, sofrendo sucessivamente o chamado bullying, acabam explodindo, atacando seus colegas com armas de fogo e promovendo verdadeiros massacres dentro de escolas. Pode ter certeza que, antes de tomarem esta atitude, eles ficaram muito tempo alimentando pensamentos destrutivos, querendo vingança, sofrendo em silêncio.

Quando escreveu Eu Não Matei Charles Bronson, você não ficou temeroso de ofender alguém? Afinal, o conto é um soco no estômago do leitor...

Esse foi meu primeiro conto, escrito em 2003, com o qual recebi Menção Honrosa, o que me animou a continuar escrevendo. A versão original era ainda mais suja, cheia de palavrões. Tive que substituí-los por ordem da editora, que previa um livro mais leve. Na verdade esse conto não veio para ofender, e sim para homenagear. Charles Bronson havia morrido naquela semana, e eu fiquei muito chateado por não ter assistido a uma memorável participação dele em algum filme do Quentin Tarantino, como despedida da sua carreira no cinema. Assim, resolvi eu mesmo criar uma história que soasse como um de seus filmes, na qual ele surgisse como um verdadeiro deus. Hoje percebo que as pessoas têm interpretado esse meu trabalho como uma crítica à violência na televisão. Antes da publicação no livro eu também alterei alguns pontos para estabelecer outro tipo de crítica: às pessoas que acreditam que, para se acabar com a violência, é necessário ser ainda mais violento. A existência da pena de morte para acabar com a violência é de uma ironia muito espontânea, e não pude deixar de incluir esta visão na versão final.


"Ah, se você não tivesse escrito uma história boa sobre mim!"

Você acha que a violência na mídia (seja em livros, filmes, jogos, programas de TV, etc) pode ter alguma influência sobre a violência no mundo real?

Dependendo da forma como ela for abordada, sim. E também depende muito da mentalidade do público. Os artistas devem ter liberdade para usá-la em suas obras, mas de forma responsável. A arte deve ser usada justamente para tornar o mundo mais pacífico, e não mais violento. Há obras que incitam à violência, e outras que são violentas justamente como forma de crítica. O problema é que em muitas vezes o público não sabe diferenciá-las.

Como escritor, você deve receber eventuais críticas negativas. Imagino que algumas sejam construtivas, enquanto outras podem ser descartadas. Como você faz para separar o joio do trigo?

O maior crítico do meu trabalho sou eu mesmo. Quando alguém me aponta algum erro, geralmente eu mesmo já tinha percebido. Mas eu também procuro entender que há pessoas e pessoas, e fulano pode adorar o conto X e detestar o Y, quando outra pessoa pode ter uma opinião extremamente oposta. Sempre encaro todas as visões de forma muito tranquila. Inclusive eu adoro ouvir o que meus leitores têm sinceramente a dizer sobre o que leram, pois isso me ajuda muito na hora de escrever.

Alguma crítica já te deixou especialmente chateado? E aproveitando, quais foram os comentários que te deixaram mais feliz?

Sinceramente, praticamente 100% dos comentários que tenho ouvido têm me deixado muito feliz. Isso ainda é pouco, mas faz com que eu me mantenha motivado a procurar escrever cada vez mais e melhor.

Por mais que os contos sejam ficcionais, sempre dá pra perceber algumas opiniões dos autores inseridas em suas histórias. Por exemplo, após a leitura de Gata Rainha, podemos afirmar que você gosta de gatos. O gosto por gatos (e animais em geral) parece ser bastante comum entre os escritores de horror e fantasia (vide Stephen King, H.P Lovecraft, Neil Gaiman, etc). Tem alguma teoria sobre isso?

Adicione Ray Bradbury e a nossa Giulia Moon nessa lista. Bem, eu adoro gatos. Acho que eles têm muito a ver comigo, pois sou silencioso e observador. Acredito que a maioria dos escritores também seja assim, então a sintonia com os felinos é grande. Além disso, os gatos são portadores de vários segredos. Qual é o fã de histórias fantásticas que não vai se deixar fascinar-se por eles?

Siamês lendo o livro de L.F.Riesemberg, seu humano de estimação.

Qual sua dica para os escritores iniciantes?

Ler muito, e escrever sempre. Se você amar o que faz, e fizer o que ama, não precisa de dica alguma.

Pergunta final: se você encontrasse o Necronomicon, você o leria? (Temos um exemplar guardadinho aqui no cofre da Biblioteca...).

Do jeito como eu adoro ler, é claro que sim. Talvez fosse o último livro que eu leria, mas deve haver muita coisa interessante nele.

Bem, essas foram as perguntas (ouvem-se aplausos vindos dos cantos escuros). Obrigado por sua paciência e boa sorte em seus projetos!

Foi um prazer conhecer esta biblioteca cheia de morcegos e teias de aranha. Espero poder visitá-la outras vezes, em breve. Agora vamos embora, pois o esqueleto quer sentar aqui novamente para continuar sua leitura. Um abraço!

"Finalmente se tocou!"

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Promoção Cultural Grafias Noturnas

O colega L.F.Riesemberg está realizando uma promoção muito legal, com direito a vários prêmios. Se quiser participar dessa mamata, é só clicar aqui. Boa sorte!

Divulgação: Lançamento do livro Contos Imediatos, vários autores


Convite para lançamento de uma antologia de contos de ficção científica, organizada com muito critério por Roberto de Souza Causo. O organizador não aceita nada que esteja aquém da excelência, então o livro é recomendadíssimo. Além disso, com autores como Ademir Pascale, Jorge Luiz Calife (alguém aí leu As Sereias do Espaço?), Miguel Carqueija e outros escritores de talento, não tem como dar errado. Não perca!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dica de Blog: Coisa Ruim não Atravessa Porteira

Hoje, uma dica diferente: não é um blog sobre literatura (não exatamente), mas sobre um tema muito interessante que precisa ser divulgado: o folclore nacional.

Com excelentes matérias sobre nossos mitos, bem como as possíveis razões para eles serem tão pouco difundidos, o blog é altamente recomendável para todo apreciador de temas fantásticos. E sem ufanismo nem nada. Se as lendas nacionais fossem uma chatice, eu não daria a mínima para o fato de serem subestimados; mas como não é o caso, e como o folclore nacional está repleto de lendas maravilhosas que precisam ser conhecidas, faço aqui minha parte: quem quiser conhecer o Blog Coisa Ruim não Atravessa Porteira pode clicar aqui e se divertir horrores.

Abraços!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Promoção de Aniversário do Blog A Lua Mortal.


Caríssimos, estou fazendo um concurso de aniversário do meu outro blog, A Lua Mortal. O prêmio é um livro autografado. Quem quiser conferir as regras, é só clicar aqui. Abraços!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O HISTORIADOR, de Elizabeth Kostova


O Historiador (Editora Suma) é um livro com qualidades. Seria tolice dizer o contrário, já que é extremamente bem escrito, amarrando de forma eficaz a parte ficcional com os dez anos de pesquisas da escritora Elizabeth Kostova, que desde criança desejava escrever um livro ao estilo de Drácula. A obra chegou a ficar na lista dos mais vendidos do New York Times e foi nomeada Livro do Ano pelo Book Sense, sendo extremamente elogiada pela imprensa especializada norte-americana, com exaltações como "eletrizante", "inteligente" e "impossível de largar". Bem, eu concordo que é inteligente, mas o resto...

A trama acompanha as desventuras de uma jovem em busca de seu pai, que desapareceu após realizar profundas pesquisas sobre o mito de Vlad, o Empalador (vocês sabem de quem estou falando...). O historiador acreditava que o mítico personagem ainda estava vivo, e que sua maldade deveria ser erradicada da face da terra. Assim, por meio de pesquisas e buscas em mosteiros, bibliotecas empoeiradas em universidades, viagens à Budapeste, Istambul e confins da Europa oriental, vamos descobrindo cada vez mais detalhes sobre o mito de Dracula, assim como pistas sobre sua ação nefasta nos dias de hoje e sobre o provável (e terrível) destino do pai da personagem central.

De certa forma, o livro homenageia muito bem o estilo de Bram Stoker, já que muitas vezes a história se desenrola através de cartas e anotações; cada localidade visitada é descrita nos mínimos detalhes, com pormenores históricos enumerados de forma quase obsessiva. É aí que está um dos grandes problemas da obra, que funciona muito mais como um guia turístico do que como um romance de terror (ou qualquer outro gênero). Sim, a presença do suposto vampiro é sentida no decorrer da obra, porém isso não é o bastante para espantar o inevitável tédio em ler 541 páginas descrevendo com exatidão os caminhos, construções, história antiga, os melhores pratos de cada restaurante, etc. E vejam, não estou criticando o uso desses recursos, que quando utilizados na medida certa, dão vida e verossimilhança à trama. O problema é que Elizabeth Kostova não soube dar o equilíbrio adequado à sua história, privilegiando aspectos históricos e geográficos em detrimento da trama, do suspense e do horror. O livro seria melhor caso fosse mais curto. Bem mais curto.

A obra é bastante comparada aos livros de Dan Brown, devido à estrutura "busca de pistas em uma corrida contra o tempo"; porém, ao contrário do dinamismo do autor de Código da Vinci, cujos livros podem ser lidos em um ou dois dias, O Historiador é uma leitura pesada, que demanda mais esforço e paciência. Dependendo do gosto do leitor, isso pode parecer uma vantagem, mas na opinião deste que vos fala, uma leitura que demanda esforço não é uma boa leitura (ou ao menos, não é uma leitura que alcança o seu principal objetivo, o de entreter); acredito que informações técnicas devem ser passadas na medida certa, sem exageros.

Tudo isso poderia ser (meio) perdoado caso o final do livro fosse absolutamente avassalador... quero dizer, depois de tanta enrolação, o leitor MERECE um desfecho surpreendente e espetacular, certo? Parafraseando o Lex Luthor de Superman Returns: WRONG! O final acaba de maneira rápida e simplista, de uma forma absolutamente anti-climática. A escritora foi concisa na única parte que demandava mais detalhes, o que é absolutamente revoltante para quem se arrastou por tantas páginas (e páginas com letras minúsculas!).

Apesar dos pesares, há aspectos elogiáveis na obra: a história dos pais da personagem principal é até interessante e bem "romanticuzona", aos poucos vamos descobrindo como o casal se conheceu, como começaram a fazer pesquisas sobre Vlad e, principalmente, como ocorreu a morte da mulher; o desenvolvimento dos personagens é coerente, embora falte carisma e senso de humor a quase todos; as poucas aparições da suposta ameaça são bem bacanas, mas nada tão assustador quanto a crítica dita especializada faz parecer. De fato, um dos aspectos menos presentes no livro é justamente o terror (o que, convenhamos, é uma grande defeito). E pensar que tem gente que diz que a obra é melhor que Drácula! Considero isso uma heresia, e olha que nem sou muito fã da obra de Bram Stoker (mas respeito imensamente, que fique bem claro).

Obviamente, minhas críticas são bastante subjetivas, e talvez meu pouco interesse em história e geografia tenham contribuído para a falta de empolgação com o livro (por exemplo, sempre gostei das didáticas obras de Michael Crichton, provavelmente por me interessar muito mais pelos temas científicos propostos pelo autor). Mas enfim, resenhas sempre refletem a opinião pessoal de seus autores, então esta aqui não poderia ser diferente.

Concluindo, fica a dica: se você é fascinado por história e geografia, e não se importa com páginas e páginas de descrições tão longas quanto a Grande Muralha da China (em detrimento do suspense e do horror), O Historiador é o livro certo para você. Conforme falei no início dessa resenha, é um livro com qualidades. Pena que tais qualidades talvez não sejam suficientes para todo aficionado pelo gênero terror.

Abraço!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Divulgação: MARCAS NA PAREDE, vários autores

Mais um convite de lançamento, caríssimos. Dessa vez, uma antologia de contos de terror com uma história de outro colaborador da Biblioteca Mal-Assombrada: Victor Meloni. Quem visitou seu blog sabe que o cara é bom. Ah, também tem conto do Duda Falcão, que está em todas ultimamente, rsrs.

Abraços!

Seguindo um paranóico


Olá caríssimos. Resolvi engrossar as fileiras do pequeno pássaro com cara de zumbi.

Sigam-me em https://twitter.com/mariocarneirojr, para pequenas notas relevantes de tempos em tempos.

Abraço!

domingo, 8 de novembro de 2009

GRAFIAS NOTURNAS, de L. F. Riesemberg


Grafias Noturnas (Editora Biblioteca 24x7), de L. F. Riesemberg, é um livro especial. Especial por ser o primeiro romance de um escritor que já desponta como uma das maiores promessas da literatura fantástica nacional. Portanto, é uma obra que já nasce com valor histórico e, por isso mesmo, resulta indispensável.

Riesemberg não comete o erro de tentar apavorar a todo custo, preferindo investir em boas histórias do que nas típicas profusões de adjetivos supostamente amedrontadores. De fato, algumas histórias nem poderiam ser consideradas de horror ou sobrenaturais, mas sempre enveredam pelos campos do inesperado, muitas vezes flertando com o realismo fantástico.

Desde já, adianto que um ou outro detalhe me incomodou, e nem todos os contos me empolgaram; tem uns dois ou três que ficam abaixo da média do Riesemberg, ou seja, não são ruins, mas perdem feio para os contos realmente ótimos do livro.

Por sorte, os contos realmente ótimos são a esmagadora maioria. :)

Falemos um pouco deles, só o bastante para atiçar a curiosidade:

O Prólogo: A Reunião dá o tom do que virá a seguir, com seu tom de fábula sombria; uma história fechada sobre uma assembléia entre o Diabo e seus súditos, e que talvez se passe no mesmo universo dos outros contos (talvez). Um começo tão bacana gera expectativa, então partimos para o próximo conto esperando por coisa boa.

Felizmente somos atendidos: O Guarda-Chuva é justamente o conto que ficou em segundo lugar no concurso que organizei. Um conto clássico de horror sobre um grupo de amigos que resolve pregar uma peça no amigo certinho. História sutil e elegante. Não faria feio em uma daquelas antologias clássicas que já resenhei aqui na Biblioteca. O final é um calafrio.

A Cápsula do Tempo certamente vai lembrar os leitores do filme Presságio, com Nicolas Cage. Riesemberg teve a idéia antes do filme aparecer, em uma daquelas coincidências que acontecem de vez em quando. Mesmo assim o conto difere por sua abordagem intimista, com uma perspectiva sombria.

A Visão fala sobre um menino cego e sua conversa com um estranho. Um conto tocante, que talvez não seja o mais imprevisível do mundo (ah, convenhamos, a gente adivinha o que vai acontecer várias linhas antes), mas o que importa se o conto emociona do mesmo jeito? Eu apenas dispensaria a "moral da história", que me pareceu desnecessária.

O Botão (aparentemente inspirado no conto Button button, de Richard Matheson) propõe um dilema moral para um casal sem grandes perspectivas. Perfeito e arrepiante!

A Luta do Século é um dos contos que não empolgou; não é ruim, pois um escritor como Riesemberg nunca fica abaixo de um determinado nível de qualidade. Mas não trás nada de novo para os aficionados pelo gênero terror, apoiando sua trama unicamente em um recurso que já foi usado muitas vezes na literatura fantástica (que diabos, eu mesmo já usei em dois contos!). Mas talvez o maior problema seja que, depois de tantos contos quase excelentes, a menor qualidade deste aqui se torna mais evidente.

Mas tudo bem; o conto seguinte (O Balanço, que mostra o diálogo entre um garoto e um velho desconhecido), é bom o bastante para fazer o livro voltar às alturas.

Meu Herói, conto sobre um menino que considera Jesus Cristo o primeiro e maior super-herói de todos os tempos. Bem, confesso que não gostei muito, por razões meramente subjetivas. Já ouvi muitas histórias no estilo antes, e sou meio avesso ao tipo. Mas tenho certeza que a maioria vai gostar.

A Doença do Porco é um conto que me deixou intrigado... Será que o Riesemberg escreveu ela há tempos antes, profetizando uma pandemia, ou simplesmente se inspirou na gripe h1n1 para escrever? Sei lá, só sei que a história deixa um quê de desconforto em vista da verossimilhança. Isso é terror real, caras. Coisa boa.

A Lei de Lavoisier (Aplicada à Arte) é um caso à parte. Não é bom, é transcedental! Perfeito. Poderia figurar em uma antologia entre Ray Bradbury e Guy de Maupassant, que estaria no mesmo nível de qualidade. No conto, um escritor encontra uma maneira de reescrever grandes obras da literatura, sem que ninguém perceba o plágio. Para quem é escritor, a história ganha ares ainda mais deliciosos, pois aborda temas que torturam qualquer candidato à escriba (como o conhecido e irritante plágio involuntário, a falta de compreensão sobre isso por parte de algumas pessoas, etc). Riesemberg estava inspirado pra caramba, pois o desenrolar é recheado de pequenas pérolas, frase realmente ótimas como: "Foi um lapso interessante da mente, no qual nunca havia sequer ouvido falar. Sem conhecer melhor definição para o que sentiu, diria que era um deja vu ao contrário: como se nunca tivesse estado antes naquele lugar, apesar de conhecê-lo muito bem." Enfim, uma idéia genial e original ao extremo, com o melhor final que um escritor poderia imaginar.

Racha é muito bacana. Riesemberg evita o moralismo ao descrever um carro como uma criatura viva, selvagem e impassível, que não se importa com a vida alheia quando deseja competir com um rival. Paradoxalmente com o tema, é um conto recheado de beleza e poesia.

No Bordel, depois da Meia-Noite... é excelente e irônico. Gostaria de fazer um paralelo com outro conto, mas pra quem ler, isso seria o equivalente a um spoiler. Digamos apenas que Riesemberg compensa o erro que cometou em outro conto do livro, cujo tema é semelhante.

Panelas de Ouro é a versão do autor para aquelas típicas lendas folclóricas e "causos" regionais. Quem não gosta de ouvir uma boa história, contada por um tio ou um avo que veio do interior? Pois esse é o clima que esse conto passa, um sabor de nostalgia e infância. E mais alguns calafrios de lambuja.

Atraso na Entrega é legalzinho, uma história sobre um rapaz que recebe um e-mail bastante atrasado, com implicâncias que o assustam. O problema é que, em vista das explicações racionais para o acontecido, a reação do personagem me pareceu meio descabida, exagerada. Ahhh, Riesemberg, estamos chegando ao final do livro, não vá perder o fôlego agora!

A Presa e o Predador é um conto doloroso... Doloroso para aqueles que já foram perseguidos por colegas mais fortes e agressivos (ou seja, que sofreram a infame prática do bullying); é tão real que incomoda. Terror cotidiano e real, que deixa um gosto amargo na boca. Isso é ruim? Não, do ponto de vista literário é ótimo, pois o conto atinge seu objetivo. É claro que nem todos vão gostar da experiência, mas enfim, aqui não é pra gostar mesmo, é pra provocar.

Pessoas de Bem é uma história hilária, sobre um espertalhão que tenta se dar bem às custas de um milionário. O final resultou um tanto "forçado", na minha opinião, mas mesmo assim a ironia é deliciosa.

A Máquina da Alegria
, homenagem clara a Ray Bradbury, é outro conto nostálgico recheado de poesia. Mestre Bradbury ficaria orgulhoso se pusesse as mãos nesse aqui.

A Emissora, sobre um motorista solitário que sintoniza uma rádio com músicas desconhecidas, é outro conto das antigas, com elementos sobrenaturais bastante sutis. Tão sutis que talvez sequer tenham acontecido, num recurso literário que muito aprecio.

Gata Rainha é narrado em primeira pessoa na forma de um monólogo. Muito legal, principalmente para quem gosta de gatos e conhece algumas lendas e mitos à respeito dos felinos.

Viva a Morte! é um barato, um sarcasmo tão grande que é impossível não rir do desfecho. Bem feito para aquele principezinho de meia-pataca!

Bem, estamos chegando ao final, e a montanha russa está em rota ascendente faz tempo. Como será que o livro vai terminar? Pois continua subindo, dessa vez de maneira quase vertical: Eu Não Matei Charles Bronson, outro dos contos premiados do autor, é um verdadeiro tapa na cara do leitor (ou melhor, um tiro de espingarda cano duplo). Provocativa como um bom conto de Chuck Palahniuk, acompanhamos a busca por justiça de um homem que foi roubado na calada da noite. Interessante notar que, embora alguns contos anteriores do escritor tivessem preceitos morais bastante evidentes, ele não se faz de rogado quando resolve abandonar qualquer filosofia edificante. Eu Não Matei Charles Bronson é o segundo melhor conto do livro, na opinião deste que vos fala, perdendo por pouco para A Lei de Lavoisier. Em resumo, fecha com chave de ouro este verdadeiro baú de tesouros.

Portanto, fica a dica: não deixe passar em branco a estréia de L. F. Riesemberg. Seu livro é uma verdadeira carta de amor ao gênero fantástico, e ainda vamos ouvir falar MUITO desse cara! E enquanto você não pede o seu exemplar, vai lendo esse conto aqui, para ter uma idéia do que te aguarda. ;)

Abraços, boa leitura!

sábado, 7 de novembro de 2009

Divulgação: SOLARIUM II (vários autores)


Mais um livro da Multifoco, que tem feito um trabalho primoroso na publicação de antologias. O livro conta com ótimos autores, como Duda Falcão, Bruno Borges, Frodo Oliveira, Rubem Cabral e muitos outros. E dessa vez não cheguei atrasado para informar a data da festa de lançamento, rsrsrs. Segue o convite abaixo:

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Divulgação: SINISTRO! (vários autores)

Não tem jeito, esse é o ano do "boom" da literatura fantástica nacional. Mais uma opção para o aficionado pelo gênero é a antologia Sinistro! (Editora Multifoco), um livro recheado de novos talentos como Danny Marks, Jocson de Souza, Lino França Jr., Frodo Oliveira e muitos outros.

Segue a sinopse da obra: "O Terror não escolhe dia, hora ou lugar para se fazer presente. Ele simplesmente chega, instala-se e faz com que toda lógica e discernimento se evaporem como que por encanto na mente das pessoas. E elas se veem a sós com seus mais terríveis temores. O terror pode ter princípio, mas quase sempre não tem fim. E não adianta lutar contra o medo que ele provoca, pois por mais que tente negar, o tremor das mãos, os pelos eriçados e o bater descompassado do coração provam que você está irremediavelmente apavorado. E isso é o que há de mais Sinistro!"

E por fim, clique aqui para ler uma entrevista com o escritor e editor Frodo Oliveira, com importantes dicas para os iniciantes que desejam se lançar no mercado literário.

Abraços!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

TEMPOS DE FÚRIA, de Carlos Orsi

Vejam vocês como são as coisas. Em um dia sem mais pretensões literárias, vasculhando as recheadas estantes da seção infanto-juvenil da biblioteca municipal de Não-Me-Toque (Isso mesmo! É o nome da cidade onde moro!) encontro uma obra chamada "Medo, Mistério e Morte", de um certo Carlos Orsi. Não "levei muita fé", a princípio. Mas apostei nas influencias do autor (ver minha resenha), e me dei bem! Muito bem, forçoso dizer!! Acontece, caros amigos e amigas, que descobri um dos maiores escritores nacionais de terror e ficção científica! Sim, o "cara" é reconhecido internacionalmente, e seus textos já foram publicados até mesmo na Argentina e nos EUA. Digitem o nome deste mestre em um "buscador" qualquer e leiam as resenhas sobre. No campo da FC e do terror, Orsi "Rules" (emprestando uma expressão usada pelo meu querido irmão, certa vez).
Então, adquiro "Tempos de Fúria" (por um precinho irresistível) com uma expectativa absurda. E...PQP!!! 9 anos se passaram entre "Medo..." e esta segunda obra, e nosso escritor evoluiu o que já era excelente na sua primeira coletânea. As influencias, agora, são outras: Robert E. Howard, Augusto dos Anjos, Jorge Luis Borges, Monteiro Lobato e outros gênios. O estilo está claramente diferente, mas as idéias...Mais revolucionárias e provocadoras ainda! São 6 contos que correm furiosamente pelas conjecturas delirantes do universo fantástico, com algumas "previsões" que podem, muito bem, se concretizar, como em "Questão de Sobrevivência", guardado os encantos necessários do gênero. Contos de Aventura e Terror, o subtítulo, complementam espetacularmente a idéia do título, emprestando ao leitor (que depois é inflexivelmente seduzido) a atmosfera necessária que precede o "consumo" da Litfan. Como de costume, farei um pequeno comentário sobre os contos que assombram as páginas furiosas desta obra espetacular da literatura fantástica nacional. Que fiquem, todos vocês, com a curiosidade pujante que nos move pelo mundo da Litfan!

Estes 15 minutos: Traficantes brasileiros tomam conhecimento de uma "falha" no espaço-tempo, após um dos seus viajar pelos poucos conhecidos endereços do Nepal. A "teoria" posta em prática, garante uma vantagem perigosamente sedutora. Utilizando-se de uma idéia incrível, Orsi nos pergunta até onde o conhecimento pode ser manipulado sem que as consequências dos detalhes sejam desastrosas. Eu realmente prestaria mais atenção nas considerações de uma conversa, deixando o interlocutor terminar sua fala. Que diferença isso pode fazer!!!

Questão de Sobrevivência: A personagem principal está, o texto todo, às voltas com sua consciência, que se debate incômodamente com os fatos, criados por situações que desconsideram o certo e o errado, uma vez que estes dois conceitos dependem muito da mais contundente e insofismável conselheira humana: a necessidade! Cheio de referências, que cutucam ideologias políticas e lógicas capitalistas, num confronto que, definitivamente, não fascina o vencedor, seja qual for, o texto nos carrega num vertiginoso passeio por ações tomadas em cima de justificativas que só aliviam a consciência se a personagem se apegar, como eu disse, ao que é necessário. E, aí, o certo e o errado ficam se equilibrando num corda muito bamba, sobre um abismo sondável apenas pela sua idiossincrasia. Não é muito justo, não é? Como Orsi nomeou o conto, é uma "Questão de Sobrevivência", nada mais.

Pressão Fatal: Uma homenagem à Conan Doyle e sua personagem mais notória, Sherlock Holmes, o insuperável detetive da lógica. Por meio de raciocinios lógico-dedutivos (nunca sei o que acompanha o hífen, agora) o inspetor Henri Bernardin vai descortinando os eventos que culminaram numa morte, aparentemente, acidental. O fato ocorre em uma estação espacial, o que enseja a habilidade de Orsi em versar sobre as idéias clássicas da FC. A pressão fatal do título ocorre metafórica e literalmente. Não entendeu? Acompanhe o oficial da Gendermeria e descubra!

Terra dos Mortos: Em todas as resenhas que li desta obra, este conto era, disparadamente, o mais elogiado da seleta. E, posso afirmar, agora, que estavam todos certos! Terra dos Mortos é uma narrativa sem precedentes na história dos contos nacionais contemporâneos! O ritmo está impregnado de uma velocidade assustadoramente hábil. A de nos conduzir por uma história cruciante, repleta de momentos tangíveis, tão poderosa são as idéias que nos vão arrastando durante as linhas magistrais de Orsi. Mais uma vez, sua extrema intimidade com a atmosfera Sci-Fi revela um mundo cheio de probabilidades alucinantes, onde estamos a todo instante nos perguntando sobre as possibilidades de tudo aquilo. As referências à um clássico deixam o clima ainda mais insano, com as criaturas dançando em nossa cabeça, aberta à todas elucubrações que surgem abundantes nas nossa obsedada atenção. Um clássico inquestionável, e um dos maiores contos de terror e ficção já escritos por um brazuca.

Desígnios da Noite: Corroborando com as outras críticas, digo que depois de Terra dos Mortos, os contos à seguir ficam com uma responsabilidade enorme. A expectativa que criamos é tremenda. O que nos espera agora, depois desta verdadeira aula de criação? Desígnios da Noite não é páreo para TM, mas ainda assim é um conto marcado pela competência do grande escritor. Como não poderia deixar de ser. A personagem principal se vê na obrigação (esta empurrada pela paixão romântica. A mais perversa e intensa de todas, necessário acrescentar) de investigar um acontecimento terrível. O sarcasmo e a indiferença com que esta trata as questões que a alcançam é, na minha opinião, o ponto alto do texto. À excessão da "ferida" que o passado lhe deixou, seu estoicismo é empolgante.

A Aventura da Criança Perdida: Conglomerados especializados em segurança são o mote para a história. O que estas empresas estão dipostas a fazer, para verem seus lucros recrescerem, nos lembram sensivelmente (rsrsrs) as ações empregadas por todas aquelas que são, hoje, indiferentes ao nosso futuro, aquelas que estão vestidas hipocritamente com o discurso ideologicamente correto, mas que não se fazem de rogadas na hora de fechar acordos escusos, visando interesses particulares. Lhe é familiar? Outra homenagem de Orsi ao esquema construído por Conan Doyle para a investigação que se valia do raciocínio lógico.

Pessoal, é sem medo algum de errar que recomendo este livro. Se você é amante da Litfan (só o fato de estar visitando este Blog já deve dizer alguma coisa), Tempos de Fúria deve estar na sua estante, na sua biblioteca particular. Se você não é muito fã, mas gosta de literatura de qualidade, adquira-o também! Uma enorme contribuição para o terror e a ficção científica nacional!

Caramba, gostei deste negócio de resenha. O próximo será "A Máquina Extraviada", de José J. Veiga. Já li os dois primeiros contos e...Paciência! rsrsrsrsr

Victor Meloni

Divulgação: Lançamento do livro Metamorfose - A Fúria dos Lobisomens


Ehh, paulistas, mas vocês são sortudos mesmo. Perdem um lançamento, logo vem outro para compensarem! As coordenadas estão no convite, não percam!

MEDO, MISTÉRIO E MORTE, de Carlos Orsi

Em mais uma das corriqueiras investigações na biblioteca municipal da urbe que me acolheu, encontro um exemplar deveras escondido. Esquecido num canto opaco da sessão infanto-juvenil. Eis que me deparo com "Medo, Mistério e Morte", de Carlos Orsi Martinho. A capa sofrível, a editora obscura e o não (podem me amaldiçoar!) conhecimento do autor, criaram alguma resistência no momento do empréstimo. Lendo a introdução, do próprio escritor, me deparo com suas fontes de inspiração: E.T.A Hofmann, Poe, Stoker, Sheridan Le Fanu, H.G. Wells, Conan Doyle e Lovecraft. Com esta lista, não houve resistência que resistisse! Levei o surrado exemplar e, momentos depois, iniciei a leitura. Bem, Carlos Orsi, antes de tudo, é um dos autores mais conhecidos na Ficção Científica nacional. Seus textos são (pelo que pude constatar na web) reconhecidamente uns dos mais profícuos e originais da FC. Mas, eu não sou um fã declarado deste gênero, embora goste. E, o livro que citei passeia pelos campos do terror, meu gênero preferido! E foi por isso que acabei emprestando a obra. A diagramação é ruim, a estética toda é condenável, mas o conteúdo...Agora sei porque Orsi é um dos grandes nomes da Litfan nacional! Lendo as críticas, disponíveis na rede, sobre este livro, pareceu-me unânime entre os comentaristas que o único "defeito" da obra é a extrema influencia do escritor norte-americano H.P. Lovecraft. De como Orsi deixa-se "lovecraftiar" (acabei de criar esta expressão rsrs) em demasia na sua narrativa, embora os elementos desta estejam todos abrasileirados, o que é ponto para Orsi!

Não sou crítico literário, portanto esta observação sobre a influência do mestre e o exagero do Seu estilo no trabalho de Orsi, me foram, na verdade, extasiantes. Quantos de nós conseguimos escrever influenciados pelos gênios, mantendo seu estilo? A propósito, hoje Orsi não demonstra tão veementemente o estilo de Lovecraft, desenvolveu o "seu próprio", talvez porque esteja engajado unicamente, ao que parece, com a FC. Mas, o que li foi uma obra gigantesca do terror, contos que me fizeram mergulhar fundo nas águas envolventes deste gênero. Medo, Mistério e Morte é um volume único, um livro que deve figurar na estante de todos aqueles que perambulam apaixonadamente pelo universo do desconhecido. Um clássico "esquecido" do terror nacional!

São 7 contos de terror magnificamente escritos, que nos fazem consumir cada linha sôfregamente, ansiosos pelo que nos espera na próxima página, na próxima história. Pena que Orsi não escreve mais sobre terror, dedicando-se exclusivamente ao FC. Pena mesmo, pois hoje, mais amadurecido, suas idéias fariam estragos em nossa impressionável imaginação!

A Maldição do Ang Mbai-Aiba: Nazista, refugiado em solo tupiniquim, encontra, depois de muita procura, o fragmento de um livro amaldiçoado, capaz de "acordar" o Errante, um ser que é o começo e o fim do mais indizível mal. Pessoal, Orsi escreve como poucos e este conto, sobre zumbis, é um soco na boca do estômago, tão intenso, tão contaminado de horror. Ainda não li "Terra do Mortos", que dizem ser seu conto mais fantástico, mas imagino o que me espera, então, depois deste texto.

Noite de Samhain: Orsi nos mostra como os cristãos "emprestaram" alguns mitos nórdicos, algumas festividades, para criarem seu 25 de dezembro. Com esta idéia, o autor viaja assustadoramente numa história de vingança cheia de alucinações cruciantes, para infelicidade da personagem que fez uma tremenda "besteira". Sabem o que Zeus fez à Prometeu? Pois é, a vendeta que recai sobre a personagem deste conto é, diria, de deixar o supremo do Olimpo inspirado.

A Fábrica: É impossível não lembrar do 1984, de Orwell, e daqueles pequenos infelizes de Another Brick In The Wall, do Pink Floyd. Todos agrupados, massificados, "empurrados" à uma perspectiva de servilismo aflitivo. De que maneira isto constrói este conto? Bem, um professor possuido por um conhecimento atroz conduz seu pupilo à uma investigação que o fará rever seus conceitos sobre a arquitetura e suas "possibilidades". O que se esconde nos inofensivos ângulos das construções mais insossas, as cruvas francesas e suas finalidades, até mesmo a teoria espaço-tempo de Einstein, tudo termina (?) desvendando um absurdo latente, pavoroso.

Estranhos no ninho: Vampiros tratados de uma perspectiva histórica? O que os gregos escreveram a respeito destas criaturas? Ressalto que o termo "vampiro" não aperece no conto,o que alimenta ainda mais nossas conjecturas. Um arqueólogo recebe, por correio, um manuscrito instigante, e é convidade a passar um "tempo" em certa ilha, para investigar o restante da obra e seu valor acadêmico, e sua relação com o pequeno pedaço de terra cercado por água de todos os lados e seus antigos habitantes. O que ele descobre é que uma "visita" urgente da Inquisição, numa passado remoto, não foi de todo bem sucedida. Não, não pense no óbvio! Orsi nos conduz à uma história provocadora.

Projeto Cassandra: Aqui, o terror invade o terreno da Ficção Científica. Alienígenas num grande complô, fazem uso das nossas ambições, das nossas ridículas faculdades, para seu bem comum. A trama, quando descoberta, ou quando alguem chega perto de, é draconianamente defendida, com as criaturas lançando mão dos meios mais escusos para tal. Afinal, nossa moral terrestre está certa? O que fazemos com nossos semelhantes, com outras espécies, com todo o planeta, nos torna melhores que quem? O último diálogo termina nos incitando à uma ótima pergunta: Mesmo estando sozinhos (?), estamos melhor assim? Acho que não...

Ora Pro Nobis: "Orai por nós". Por quê? Apesar do Apocalipse (e toda bíblia, forçoso dizer) ser uma compilação de histórias muitos mais antigas, "emprestadas" de civilizações bem mais remotas, com vários anacronismos e incoerências, o que aconteceria se um acontecimento nos mostrasse que algumas de suas afirmações estão prestes a acontecer? Já não basta o inferno diário no qual o mundo está, há muito, afundado? Não, meus senhores e senhoras! Um "enviado" (por quem é uma boa pergunta) nos diz, através de atitudes insanas, que o fim será muito pior, e até ele chegar, este pior estará sempre nos rondando, nos mostrando seu sorriso encarnado.

Aprendizado: Junto com o primeiro conto, este é, na minha opinião, o mais influenciado pelo estilo narrativo de Lovecraft. Que maravilha, então! E é mesmo! Cheio de teorias sobre a geografia terrestre e as consequências de se contestar o "status quo", sobre a função social de certos ruminantes e seus segredos infames, o texto nos leva numa viagem (de barco, com as personagens!!!) inescrutável. Até seu fantástico final! Orsi escreveu este conto quando tinha apenas 21 anos, de acordo com minhas pesquisas. Nesta idade, a maioria está "vazia", com a cabeça repleta de estupidez e alienada ao extremo. Palmas para o escritor paulista e sua enorme habilidade com as idéias fantásticas, influenciado, ou não.

Victor Meloni



Nova Participação Literária! Dessa vez, como Escritor Convidado da Antologia Zumbis - Quem Disse que Eles Estão Mortos? (Organização: Ademir Pascale)


Meus caros amigos, fui convidado para participar de mais uma coletânea literária. E dessa vez, como escritor convidado, com todo o destaque, pompa e circunstância que o cargo oferece! Rsrsrs. Agradeço imensamente ao escritor e organizador Ademir Pascale, que acredita no meu potencial a ponto de me oferecer tamanha honra (que vou dividir com M.D.Amado e com César Silva, que fará o prefácio!). E em um livro com uma temática tão legal! Que eu saiba, nenhum livro homenageando os mortos que andam foi publicado antes no Brasil (não com autores brasileiros, ao menos).

Zumbis são criaturas das mais interessantes no gênero horror. Os verdadeiros fãs conhecem as maravilhosas histórias que podem ser contadas com tais entidades, que muitas vezes servem de pano de fundo ou metáfora social para a discussão das mais diversas questões sociais e políticas (mestre Romero que o diga). Zumbis assustam pelo aspecto epidemiológico, pela velocidade que transmitem sua maldição; apavoram pelo andar trôpego e rígido, nos lembrando a todo momento de nossa própria mortalidade; mas acima de tudo, zumbis nos divertem pelo potencial que possuem para gerar excelentes histórias, sejam de horror, suspense, aventura e até mesmo comédia. Creio que será muito interessante descobrir como os escritores brasileiros irão abordar o tema. Espaço para criatividade existe!

E você que está lendo isso pode tentar participar! As regras para envio dos contos podem ser conferidas no seguinte endereço: http://www.cranik.com/zumbis.html

Acesse também a comunidade do Orkut: Zumbis - Quem disse que Eles Estão Mortos?

E por enquanto é isso. E lembrem-se: se aquele seu tio chato aparecer na calada da noite, resmungando, com uma mala na mão (igual àquela que ele trouxe da última vez que passou dois meses na sua casa) e uma expressão sonolenta no olhar, não perca tempo: ATIRE NA CABEÇA! Tá, talvez ele não tenha virado um zumbi, mas pra quê arriscar? :)

Abraços!

Lançamento do Grafias Noturnas em São Mateus do Sul - PR

Lançamento do Grafias Noturnas, do escritor e colaborador da Biblioteca Mal-Assombrada, L.F. Riesemberg. Não perca!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Impressões do lançamento do Galeria do Sobrenatural.


Olá! Como sabem, o lançamento do livro Galeria do Sobrenatural (Terracota Editora) foi dia 31 de outubro, sabadão de Dia das Bruxas. Foi a primeira vez que participei de uma sessão de autógrafos, e achei muito divertido. Para quem não foi, segue uma descrição do lançamento:

Eu e meu amigo André Ivankio (e não Vianco) chegamos na Livraria Martins Fontes em cima da hora, mas a fome nos impede de entrar de imediato. Arrumamos um lugar nas imediações e nos servimos de x-salada e outras delícias banhadas em óleo. “Preciso de energia para segurar a caneta”, penso enquanto engulo o último pedaço.

Entramos na livraria e procuro algum rosto conhecido. Vejo uma senhorita de costas - que pode ou não ser a Giulia Moon - conversando com três distintos cavalheiros. Um deles veste uma camiseta do site Boca do Inferno, então penso “é aí mesmo que vou chegar”.

Sim, é Giulia Moon, que me recebe com um sorriso e um abraço. Ao seu lado está seu consorte Roberto Melo, um dos sujeitos mais inteligentes que já conheci. Giulia logo me apresenta aos demais: “esses são Roberto de Sousa Causo e Renato Rosatti”. Comprimento dois autores fantásticos que eu ainda não conhecia pessoalmente (o primeiro escreve livros, o segundo escreve artigos sobre o gênero horror para o site Boca do Inferno, para o blog Infernotícias e para seu fanzine Juvenatrix).

Encontro de gigantes: Roberto de Sousa Causo, Finisia Fideli, Giulia Moon e Braulio Tavares.

“Você escreveu A Sombra dos Homens!”, digo para Roberto Causo, que parece ligeiramente surpreso por eu ter lido esse livro. Se ele fez aquela expressão de brincadeira, legal, mas se ficou realmente impressionado, é meio triste... triste porque um autor não deveria ficar admirado por terem lido um livro ótimo como aquele, isso deveria ser algo comum! Mas enfim, estamos no Brasil, então vamos falar sobre a baixa valorização dos autores nacionais uma outra hora.

Antes que consiga conversar com Renato Rosatti, Giulia Moon me chama para conhecer o resto do pessoal. Sou apresentado ao organizador do livro, Sílvio Alexandre (mais conhecido por ser idealizador e organizador do Fantasticon). Extremamente simpático e elétrico, não sei se ele é assim sempre, ou se estava eufórico com o lançamento do livro (talvez uma mistura dos dois). Pergunto se posso distribuir cartões do MedoB, blog do amigo João Marcos, e Sílvio diz que posso vender o meu peixe (ou o peixe alheio) à vontade. Deixo alguns cartões na mesa e guardo outros para ir distribuindo.

Sílvio Alexandre, já "caneteando" os livros do pessoal

Conheço o Cláudio Brites, da Editora Terracota, e peço desculpas pelas insistentes perguntas que fiz antes dos lançamentos do Alterego e da Galeria do Sobrenatural; ele diz que não tem problema, que é preciso perguntar mesmo. Gente fina.

Volto para perto do Renato Rosatti, que continua perto da prateleira de literatura fantástica (planejo dar uma boa olhada nessa prateleira mais tarde, porém acabo esquecendo disso). Conversar com ele sobre terror é um imenso prazer. Ele começa elogiando minha camiseta do monstro de Frankenstein, e diz que prefere filmes mais antigos. A partir daí, falamos sobre filmes e sobre como os vampiros atuais andam meio... “crepusculares demais”, por assim dizer. Rapidamente chegamos a um consenso: vampiros predadores e malzões são os mais legais.

Sou chamado para conhecer outros autores presentes: Cláudio Villa, Fábio Fernandes, Lúcio Manfredi, Danny Marks, Márcia Olivieri, Bráulio Tavares (escritor de A Espinha Dorsal da Memória e Mundo Fantasmo, além de organizador do incrível Páginas de Sombra - Contos Fantásticos Brasileiros), Shirley Souza e Cavani Rosas (desenhista da maravilhosa história em quadrinhos do final do livro). Todos muito simpáticos, me recebem com sorrisos e parabéns.

Recebo um crachá e não tenho onde colocar. Improviso uma dobra na camiseta e ali a identificação fica. As pessoas começam a se posicionar em volta da mesa, e todos os autores sentam e ficam no aguardo.

Da esquerda para a direita, alguns dos autores presentes (e corrijam-me se eu tiver errado algum nome): Shirley Souza, Márcia Olivieri, Cláudio Villa e Lúcio Malfredi.

Alguém me passa o primeiro livro para autografar, e nesse momento pergunto “onde vocês pegaram essas canetas”. Giulia Moon começa a dar risada e fala “você não trouxe sua caneta???” Pois é... Por algum motivo, imaginei que haveria belas odaliscas descascando uvas e oferecendo canetas para os escritores. Bem, nada de odaliscas nem canetas grátis, então vou correndo atrás de uma. Da caneta, não das odaliscas.

Da esquerda para a direita: Lúcio Malfredi, Bráulio Tavares, Cavani Rosas (em pé) e este que vos fala. Reparem na minha expressão de desalento enquanto espero a chegada da Bic salvadora.

Incumbo meu amigo de encontrar uma caneta para mim, e volto para a mesa. Peço emprestada a caneta do Bráulio Tavares, que muito educadamente o faz. Sou cara de pau e uso mais duas vezes, antes do André chegar com a minha Bic azul. Agradeço e fico mais tranqüilo. Mais ou menos, já que os livros vão vindo e eu realmente não sei o que devo escrever. Quero dizer, achei que era só escrever o nome e pronto, mas os escritores vão escrevendo dedicatórias com frases shakespeareanas (bom, ao menos foi essa a impressão que tive na hora) e eu não sei o que fazer! Nos primeiros livros ainda tento escrever algo esperto, mas falho sempre. Resolvo ser sucinto e fico no “Nome do leitor - Divirta-se – assinatura”. Aliás, ainda bem que cada livro vem com uma etiqueta com o nome do leitor, caso contrário, dar autógrafos assim seria impraticável. Mas enfim, esse pessoal já tem prática no assunto, eu não.

E vão vindo os livros. Distribuo cartões do Medo B e respondo do que se trata para aqueles que perguntam. Eu fico em pé, pois as cadeiras são poucas. Pego prática em escrever desse jeito (ou melhor dizendo, em estragar o livro dos leitores com meus garranchos), e vai ficando mais fácil. Começo a relaxar e me divertir de verdade. Eu poderia fazer isso mais vezes, sério mesmo. E algumas das leitoras são muito bonitas, mas não tenho tempo para puxar papo. Bem, seria pouco profissional da minha parte, então apenas anoto meu telefone na dedicatória (brincadeira!).

Chegam dois rostos conhecidos pela internet, Marcelo Augusto Galvão e Luciana “Colujinha” Fátima, dois autores que muito admiro. Dar um rosto de verdade para as fotos da internet é muito legal. Marcelo Galvão escreveu o excelente conto “Criança Feia” da última Scarium, e elogia meu conto “Bruxa!” da mesma edição. Luciana acabou de lançar um livro de fotografias, o Carinhas(os) Urbanas(os), que está sendo muito elogiado. Fica a sugestão.

Ganhei um exemplar do Galeria para pegar autógrafos dos outros escritores, e começo a pedir a assinatura nos momentos mais tranqüilos. Tento conversar um pouco com Roberto Causo, que comenta algo que escrevi num blog. Puxo pela memória, torcendo para não ter falado besteira; ainda bem que não foi (eu escrevi que ele tinha recusado um conto que enviei para a Antologia Contos Imediatos, mas em compensação havia sido bastante atencioso em comentar e corrigir a história, com críticas muito válidas e construtivas). Comento que li “A Sombra dos Homens” porque quero escrever uma história com seres do folclore brasileiro, e queria ler o livro dele (que contém esses elementos) para não cometer algum plágio involuntário. Ele sugere outra autora para eu fazer esse tipo de pesquisa, mas tenho que voltar aos autógrafos e não gravo o nome. Tudo bem, posso pegar o nome dessa escritora depois, e dar autógrafos ainda é um prazer.

De fato, é um prazer tão grande que é difícil sair dali quando o Sílvio Alexandre começa a chamar para a palestra sobre Além da Imaginação. Os autores vão ficando, e somos chamados mais duas vezes. Outro escritor chega atrasado (não vou entregar o nome, não quero ser chamado de dedo-duro) e continua autografando. Eu resolvo ficar mais um pouco também, apesar de continuarem chamando a gente. Martha Argel chega e me dá um abraço, perguntando onde está a Giulia Moon (para quem não sabe, as duas são amigonas). Digo que ela deve estar lá em cima, vendo a palestra. Eu e meu colega atrasado trocamos os livros para autógrafos. Ele escreve uma frase edificante, enquanto eu escrevo “Vamos logo que tão chamando a gente!”. Ele dá risada e diz que gostou, que vai sempre lembrar que estava levando uma chamada.

Enquanto me instalo, percbo que o André comprou meu livro e penso “isso sim é amigo, veio lá de Curitiba só para isso e ainda compra um exemplar!”. Além do mais, ele não tem qualquer interesse em literatura fantástica, o que me faz valorizar ainda mais seu gesto (e nem ligo para o fato dele não ter gostado do meu conto, rsrsrs).

Fernanda Furquim prepara-se para começar a palestra. De branco e braços cruzados, Renato Rosatti; vestindo uma camisa branca com manchas pretas e gosto extremamente duvidoso, André Ivankio "se delicia" com minha história, ahauahau!

Não perdi muito, a conferência felizmente acabou de começar. O assunto é muito legal, com a simpática Fernanda Furquim explicando como Rod Serling conseguia abordar temas sociais e políticos em seu programa, mas de uma maneira sutil o bastante para driblar o pensamento retrógrado dos patrocinadores e das redes de TV.

Fernanda Furquim Rocks!

Durante a palestra, vejo alguém lá na porta; o rosto é conhecido das fotos de orkut, mas não tenho certeza se é ele. Cumprimento e ele retribui. Tem que ser meu grande amigo Jocks Lobo! Apesar da palestra estar um barato, não consigo segurar a curiosidade; levanto e pergunto “é você?” e ele diz “Maaario, tudo bom?”. Começamos a conversar animadamente, e logo a platéia nos repreende com um “PSHHIIIIIUU!!!”. Estão certos eles.

Eu e o Jocks, ainda com as orelhas vermelhas pela bronca que levamos.

Saímos dali com risos embaraçados e conversamos mais um pouco, falando sobre nossos lançamentos (ele está participando da antologia Sinistro, da Editora Multifoco). Volto para o fim da palestra, e começa o episódio piloto de Além da Imaginação. Uma conhecida escritora troca de lugar e acidentalmente bate na mesa do projetor, mudando um pouco o ângulo da projeção. Ninguém a repreende e eu penso “ainda demora pra eu conseguir essa moral!”.

Desço para o térreo e bato papo com o amigo Júnior, que acabou de chegar. Algumas pessoas aparecem e mais autógrafos são dados com mutcho gusto.

Chega uma amiga de Campo Mourão que está morando em SP, a Lara e duas irmãs. Uma delas compra meu livro e eu agradeço, dizendo que graças a essa compra, vou dar entrada na minha jacuzzi. A moça do caixa solta uma gargalhada, não sei por quê. Minha amiga concorda que todos desejam uma jacuzzi e me dá um suco de uvas verdes de presente (seria para compensar a falta das odaliscas descascando uvas?). O suco é uma delícia (sei que esse detalhe não interessa a vocês, mas já perdi o controle deste post faz tempo).

Adriano Siqueira aparece e pede minha assinatura, revelando que é fã de Além da Imaginação. Não tem jeito, esse programa é unanimidade entre os apreciadores do fantástico. O Adriano é outra pessoa com quem gostaria de ter conversado por mais tempo, mas infelizmente não foi possível.

Meus amigos vão embora meio que ao mesmo tempo, e outros leitores aparecem para mais autógrafos. Giulia Moon e Martha Argel sempre me apresentam para seus fãs, dizendo que estou participando da antologia e elogiando minhas histórias (obrigado, meninas). Ah, a Giulia continua lembrando a todos que não levei uma caneta, e ela e a Martha se matam de rir. Martha e Giulia parecem aquelas melhores amigas de colegial, que não param de dar risada por um minuto. São um barato.

Alguns leitores puxam papo e é muito legal esse contato, a conversa sobre escrita, livros e tudo mais. Converso mais um pouco com o Renato Rosatti, que infelizmente precisa sair mais cedo (com seu livro devidamente autografado, of course). Vejo um autor pegando um comprador no pulo, enquanto ia saindo com o livro, e oferece seu autógrafo. Eu chego e ofereço o meu, dizendo que estamos “caçando livros para autografar”, mas ele dá um riso amarelo e volta a conversar com o casal que está com ele. Diante de tamanha empolgação, volto para o meio do pessoal que parece interessado em falar comigo. E eles aparecem, ainda bem. Converso com o senhor Fritz, simpaticíssimo e divertido, e com Danny Marks, outro participante do livro que ainda não tinha assinado o meu (nem eu o dele, embora tivéssemos certeza que eu tinha assinado! Acho que algum comprador do livro levou uma dedicatória minha endereçada ao Danny).

Sílvio Alexandre conversa com algumas pessoas sobre o livro Enciclopédia dos Monstros (Editora Ediouro). Eu me intrometo e digo que já li esse livro e gostei. Ainda bem que gostei, pois depois que digo isso, Sílvio Alexandre revela que fez o prefácio (“A melhor coisa do livro”, brinca ele, para em seguida elogiar o trabalho do autor Gonçalo Junior). Na capa do livro tem uma foto de Boris Karlof como o monstro de Frankenstein, então resolvo fazer uma brincadeira e digo “só não gostei dessa foto do Karlof aí”, e fico no aguardo pelas risadas (afinal estou com uma camiseta com estampa do ator). Infelizmente acho que ninguém reparou na minha camiseta, e minha tirada passa despercebida. Bem, não se pode acertar todas.

Conheço alguns fãs ilustres: Nathalia (filha da “Tia Concei”, que só vou conhecer mais tarde), Thá e Leonardo Ragacini (autor do livro Criaturas da Noite Fria de Sangue Quente), além de alguns outros que infelizmente não consigo lembrar o nome agora (desculpa aí, gente, sou péssimo com nomes). Tento aproveitar ao máximo as conversas sobre literatura, sentindo-me orgulhoso por ver que minhas opiniões são valorizadas (segundo o André, isso deve ser carência).

Cláudio Brittes está indo embora, mas fica mais um tempinho conversando comigo e com Martha Argel na porta da livraria. Eu e os outros autores vamos ficando até o fim do expediente, quando finalmente vamos embora (a contra gosto). É meio triste deixar para trás aquelas pessoas que têm interesses em comum conosco, que nos recebem com tanto carinho. Mas tudo bem, outros livros virão. Ainda bem que saio dali para fazer um lanche com alguns amigos, então não tem lugar para a melancolia se instalar.

E é isso. Quem foi foi, quem não foi vai ter que esperar outro lançamento. :)

Abraços, até mais!