quarta-feira, 3 de junho de 2009

A TORRE NEGRA, de Frodo Oliveira


Frodo Oliveira (por favor, sem piadas com hobbits, ok? rs) nasceu em Recife, mas reside há mais de 20 anos no Rio de Janeiro. Comerciário, editor da Multifoco e acadêmico de Letras, Frodo já pubicou o livro Extrema Perfeição (Corifeu, 2007) e trabalhos nas antologias Noctâmbulos (2007) e Caminhos do Medo (2008), ambos da editora Andross, Solarim, pela Multifoco, além de ter participado da Antologia Poética ano 3, pela Scortecci Editora. Seu segundo livro solo e tema do presente post, A Torre Negra (Multifoco, 2008), é uma coletânea de contos de terror. Mas não qualquer terror, e sim um mais específico: o terror psicológico, do dia a dia.

Posso estar sendo simplista em definir o tema do livro dessa forma, pois muitos contos do talentoso autor são difíceis de encaixar em qualquer categoria. Alguns parecem pequenas crônicas sinistras, algo como um "Luiz Fernando Veríssimo do mal" (isso é um elogio! Rsrs), enquanto outras histórias resvalam no realismo fantástico, flertando com o absurdo e o impossível. Das 16 narrativas presentes na obra, podemos afirmar que apenas duas são realmente sobrenaturais, enquanto outras deixam na dúvida: o fantástico pode ter acontecido apenas na mente dos personagens, que projetam seus temores e desejos no mundo exterior. O monstro aqui é o monstro humano.

Vou comentar alguns contos: Cinzas, uma tocante história sobre o difícil relacionamento entre um pai e sua obstinada filha, abre o livro. Se isso serve de crítica, acho que esse conto deveria ter sido deixado para depois, pois quem ler essa pequena obra prima ficará com altas espectativas pelo resto do livro. Não estou falando que o resto do livro é ruim (o livro é ótimo), acontece apenas que esse conto é o melhor de todos (ao menos para mim); e ler ele assim, logo de cara, pode fazer (por comparação) os outros contos parecerem menos bons do que são realmente! Pois então fica a dica, caso você compre o livro: deixe esse conto por último (acho que posso estar criando expectativa demais pra esse conto, então, na verdade, faça o que quiser, rs).

Death Story e Diário Eletrônico de uma Paixão Platônica seguram bem o ritmo, abordando o amor e a paixão de uma forma que você nunca leria em um folhetim romântico. Já Maxwell parece ser apenas uma carta de amor do escritor para... bem, não posso falar, mas só digo que não sou muito fã do autor deixar suas preferências tão explícitas em seus contos. Sei lá, isso me distraii, acho que são poucos os escritores que conseguem abordar suas preferências (de músicas, livros, filmes, games, etc) nas histórias e ainda soarem com naturalidade (Stephen King é um dos poucos). Mas entendo o Frodo, é difícil não mencionar as coisas que são de nossa preferência (faço isso direto), mesmo assim, acho que é preciso ser mais sutil nesses pontos, coisa que ele intencionalmente não foi. Portanto, não tinha como eu gostar dessa história, já que vai contra minhas preferências. Coisa pessoal mesmo.

Em Morrer de Amor, ficamos na dúvida já mencionada antes: aquilo está acontecendo ou não? A única certeza no final da leitura é que o conto é excelente.

Pequeno Tesouro é outra "crônica sinistra", abordando o tema do racismo, da intolerância, da maldade inerente ao ser-humano... ou seria resultado do meio? Frodo não responde, mas lança a dúvida no ar. Muito legal também, outra das minhas favoritas.

Pra Você Viver Mais, novamente, traz outra preferência do autor de forma escancarada. A história me pareceu excessivamente melodramática. Achei que aqui, houve excessivo esforço em fazer algo emocionante, coisa que a história Cinzas conseguiu fazer com naturalidade. Mas isso é opinião pessoal, e não duvido que muita gente vá achar esse conto o melhor do livro.

Reminiscências vem logo depois, pra não deixar a peteca cair. É um daqueles contos ótimos, mas que simplesmente não dá pra dizer muita coisa sem entregar. Já Segredos apela pra uma narrativa fora de ordem para manter a curiosidade, e consegue. Só achei desnecessária a lista final, mostrando a verdadeira ordem dos mini-capítulos. Me pareceu um mágico explicando o truque depois de ter feito um número legal.

A Torre Negra é a história mais longa, e onde a pesquisa histórica fica bem evidente. Mesmo assim, o autor consegue passar as informações sem didatismo, com naturalidade exemplar, um pano de fundo para uma história sobre dor, arrependimento, luxúria e entrega. Ao final da história, ficamos pensando se não teriamos a mesma reação do protagonista, naquela terrível situação. É um dos dois contos com temática claramente sobrenatural (o outro, não posso dizer qual é, rs).

Em Um Pulo em Casa, onde o autor investe em um aspecto que pode até ser considerado clichê, mas ainda assim, é bastante eficiente. Por fim, O Viajante é uma história de viagem temporal, meio confusa e difícil de seguir, mas o final compensa as falhas... digo, compensou para mim, mas creio que vai ter gente que vai odiar o desfecho dessa história. Mas em um livro com uma variação tão grande de temáticas, seria mesmo muito difícil gostar de tudo, no entanto, pela qualidade da obra, é muito fácil gostar da grande maioria. E é isso, fica mais essa recomendação de leitura.

O livro pode ser comprado através do primeiro link abaixo.

Links:

A Torre Negra na Editora Multifoco

Blog do Autor

Entrevista

Abraços, até mais!

3 comentários:

  1. E aí, Mario! Você tá fazendo um trabalho muito legal em prol dos autores nacionais. A resenha crítica está muito boa. Isso me inceniva a leitura de autores que muitas vezes deixamos de lado, somente por que não estão nas prateleiras privilegiadas das grandes livrarias.
    Um abraço!

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  2. Também participei de Caminhos do Medo, ao lado do Frodo, e não canso de dizer que seu conto A Ponte do Diabo, embora imperfeito, é uma das melhores coisas daquela antologia medíocre (quem se ofender, procure no dicionário o significado de medíocre). É legal saber que o Frodo escreve bastante. Dificilmente não melhorará sua arte, praticando desse jeito.
    Só uma crítica: não haveria um título melhor para esse livro, para que não ficasse igual ao do Stephen King? Abraço!

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  3. Duda, valeu a força!

    L.F., eu fiz esse mesmo questionamento ao autor, e ele simplesmente disse que "tomou emprestado o título" do Stephen King... acho que ele quis homenagear ou algo assim, rsrs. De fato, o Frodo é muito talentoso. Abraços, obrigado pelos comentários!

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