Vejam vocês como são as coisas. Em um dia sem mais pretensões literárias, vasculhando as recheadas estantes da seção infanto-juvenil da biblioteca municipal de Não-Me-Toque (Isso mesmo! É o nome da cidade onde moro!) encontro uma obra chamada "Medo, Mistério e Morte", de um certo Carlos Orsi. Não "levei muita fé", a princípio. Mas apostei nas influencias do autor (ver minha resenha), e me dei bem! Muito bem, forçoso dizer!! Acontece, caros amigos e amigas, que descobri um dos maiores escritores nacionais de terror e ficção científica! Sim, o "cara" é reconhecido internacionalmente, e seus textos já foram publicados até mesmo na Argentina e nos EUA. Digitem o nome deste mestre em um "buscador" qualquer e leiam as resenhas sobre. No campo da FC e do terror, Orsi "Rules" (emprestando uma expressão usada pelo meu querido irmão, certa vez).
Então, adquiro "Tempos de Fúria" (por um precinho irresistível) com uma expectativa absurda. E...PQP!!! 9 anos se passaram entre "Medo..." e esta segunda obra, e nosso escritor evoluiu o que já era excelente na sua primeira coletânea. As influencias, agora, são outras: Robert E. Howard, Augusto dos Anjos, Jorge Luis Borges, Monteiro Lobato e outros gênios. O estilo está claramente diferente, mas as idéias...Mais revolucionárias e provocadoras ainda! São 6 contos que correm furiosamente pelas conjecturas delirantes do universo fantástico, com algumas "previsões" que podem, muito bem, se concretizar, como em "Questão de Sobrevivência", guardado os encantos necessários do gênero. Contos de Aventura e Terror, o subtítulo, complementam espetacularmente a idéia do título, emprestando ao leitor (que depois é inflexivelmente seduzido) a atmosfera necessária que precede o "consumo" da Litfan. Como de costume, farei um pequeno comentário sobre os contos que assombram as páginas furiosas desta obra espetacular da literatura fantástica nacional. Que fiquem, todos vocês, com a curiosidade pujante que nos move pelo mundo da Litfan!
Estes 15 minutos: Traficantes brasileiros tomam conhecimento de uma "falha" no espaço-tempo, após um dos seus viajar pelos poucos conhecidos endereços do Nepal. A "teoria" posta em prática, garante uma vantagem perigosamente sedutora. Utilizando-se de uma idéia incrível, Orsi nos pergunta até onde o conhecimento pode ser manipulado sem que as consequências dos detalhes sejam desastrosas. Eu realmente prestaria mais atenção nas considerações de uma conversa, deixando o interlocutor terminar sua fala. Que diferença isso pode fazer!!!
Questão de Sobrevivência: A personagem principal está, o texto todo, às voltas com sua consciência, que se debate incômodamente com os fatos, criados por situações que desconsideram o certo e o errado, uma vez que estes dois conceitos dependem muito da mais contundente e insofismável conselheira humana: a necessidade! Cheio de referências, que cutucam ideologias políticas e lógicas capitalistas, num confronto que, definitivamente, não fascina o vencedor, seja qual for, o texto nos carrega num vertiginoso passeio por ações tomadas em cima de justificativas que só aliviam a consciência se a personagem se apegar, como eu disse, ao que é necessário. E, aí, o certo e o errado ficam se equilibrando num corda muito bamba, sobre um abismo sondável apenas pela sua idiossincrasia. Não é muito justo, não é? Como Orsi nomeou o conto, é uma "Questão de Sobrevivência", nada mais.
Pressão Fatal: Uma homenagem à Conan Doyle e sua personagem mais notória, Sherlock Holmes, o insuperável detetive da lógica. Por meio de raciocinios lógico-dedutivos (nunca sei o que acompanha o hífen, agora) o inspetor Henri Bernardin vai descortinando os eventos que culminaram numa morte, aparentemente, acidental. O fato ocorre em uma estação espacial, o que enseja a habilidade de Orsi em versar sobre as idéias clássicas da FC. A pressão fatal do título ocorre metafórica e literalmente. Não entendeu? Acompanhe o oficial da Gendermeria e descubra!
Terra dos Mortos: Em todas as resenhas que li desta obra, este conto era, disparadamente, o mais elogiado da seleta. E, posso afirmar, agora, que estavam todos certos! Terra dos Mortos é uma narrativa sem precedentes na história dos contos nacionais contemporâneos! O ritmo está impregnado de uma velocidade assustadoramente hábil. A de nos conduzir por uma história cruciante, repleta de momentos tangíveis, tão poderosa são as idéias que nos vão arrastando durante as linhas magistrais de Orsi. Mais uma vez, sua extrema intimidade com a atmosfera Sci-Fi revela um mundo cheio de probabilidades alucinantes, onde estamos a todo instante nos perguntando sobre as possibilidades de tudo aquilo. As referências à um clássico deixam o clima ainda mais insano, com as criaturas dançando em nossa cabeça, aberta à todas elucubrações que surgem abundantes nas nossa obsedada atenção. Um clássico inquestionável, e um dos maiores contos de terror e ficção já escritos por um brazuca.
Desígnios da Noite: Corroborando com as outras críticas, digo que depois de Terra dos Mortos, os contos à seguir ficam com uma responsabilidade enorme. A expectativa que criamos é tremenda. O que nos espera agora, depois desta verdadeira aula de criação? Desígnios da Noite não é páreo para TM, mas ainda assim é um conto marcado pela competência do grande escritor. Como não poderia deixar de ser. A personagem principal se vê na obrigação (esta empurrada pela paixão romântica. A mais perversa e intensa de todas, necessário acrescentar) de investigar um acontecimento terrível. O sarcasmo e a indiferença com que esta trata as questões que a alcançam é, na minha opinião, o ponto alto do texto. À excessão da "ferida" que o passado lhe deixou, seu estoicismo é empolgante.
A Aventura da Criança Perdida: Conglomerados especializados em segurança são o mote para a história. O que estas empresas estão dipostas a fazer, para verem seus lucros recrescerem, nos lembram sensivelmente (rsrsrs) as ações empregadas por todas aquelas que são, hoje, indiferentes ao nosso futuro, aquelas que estão vestidas hipocritamente com o discurso ideologicamente correto, mas que não se fazem de rogadas na hora de fechar acordos escusos, visando interesses particulares. Lhe é familiar? Outra homenagem de Orsi ao esquema construído por Conan Doyle para a investigação que se valia do raciocínio lógico.
Pessoal, é sem medo algum de errar que recomendo este livro. Se você é amante da Litfan (só o fato de estar visitando este Blog já deve dizer alguma coisa), Tempos de Fúria deve estar na sua estante, na sua biblioteca particular. Se você não é muito fã, mas gosta de literatura de qualidade, adquira-o também! Uma enorme contribuição para o terror e a ficção científica nacional!
Caramba, gostei deste negócio de resenha. O próximo será "A Máquina Extraviada", de José J. Veiga. Já li os dois primeiros contos e...Paciência! rsrsrsrsr
Victor Meloni
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
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