sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
HISTÓRIAS DE ARREPIAR, de Robert Westall
Olá, desbravadores dos labirintos de nossa humilde biblioteca! Após uma resenha mainstream (e um tanto frustrante), nada melhor do que trazer algo mais palatável, satisfazendo assim a mórbida fome dos mais exigentes glutões literários.
Hoje vou falar de um livrinho pocket book com capinha feeeia e xinfrim, do tipo que a gente pega na estante e nem dá muita bola, levando para casa apenas porque estava muito barato. Foi assim comigo, ao menos. E que grata surpresa!
Histórias de Arrepiar, de Robert Westall (Editora Paulicéia), foi lançado no Brasil em 1991. Quase 20 anos atrás, mas a linguagem é tão moderna (no bom sentido) e saborosa, que parece ter sido escrito ontem. O autor inglês (falecido em 1993) é praticamente desconhecido no Brasil, mas em seu país ficou famoso por seus livros infantis e infanto-juvenis, que muitas vezes traziam temas sinistros e bastante maduros para seu público-alvo (que, talvez por isso mesmo, o adorava). Como ele era bom de prosa, suas histórias realmente são capazes de agradar adultos e crianças, com contos de fácil leitura, mas que nunca insultam a inteligência do leitor. De fato, se eu não soubesse que ele escrevia para um público mais jovem, poderia jurar que Histórias de Arrepiar foi feito para adultos.
Mas chega de enrolar! Vamos aos seis deliciosos contos do livro:
Casa Vazia é talvez a melhor história do volume (rivalizando apenas com a terceira, mas não vamos nos precipitar), narrando as desventuras de um garoto que resolve matar aula. O conto, em primeira pessoa, começa com as explicações do menino para ter fugido da escola, e aqui já percebemos o quanto o autor é bom. Seu personagem é daquele tipo que parece respirar, entendem? O guri tem vida! Bem, talvez não por muito tempo, já que enquanto passeia pela cidade, acaba se deparando com uma estranha casa, que parece estar abandonada. Movido pela curiosidade e falta do que fazer, ele acaba entrando na residência, mas a porta se fecha atrás dele, deixando-o irremediavelmente trancado. Aos poucos ele vai descobrindo sinais de que há mais alguém lá dentro, o que garante passagens de suspense muitíssimo bem conduzido, levando ao final criativo e extremamente satisfatório. Um primor!
Dia da Caça é sobre um homem violento e sem consideração pelas fofas criaturas da natureza (que meigo, eu sei), que tem o hábito de caçar texugos para garantir uma graninha extra. Em uma de suas expedições de caça, seus cães acabam feridos por um exemplar particularmente violento, então ele não hesita em dar cabo do bichinho por simples vingança. Dias depois, começa a encontrar marcas de patas e outros sinais em sua casa, indicando que está sendo assombrado por... um texugo! Mas é claro, nem tudo é o que parece ser, e a explicação pode ser ainda mais aterradora. História irônica, que brinca com a absurda hipótese de animais fantasmas.
Linha Cruzada com a Morte é o outro diamante oculto do livro. Na sede dos Samaritanos (uma instituição onde voluntários atendem ligações de pessoas deprimidas), Harry Lancaster se oferece para cuidar do plantão de natal há mais de vinte anos (para alegria dos outros voluntários). Contudo, fica doente na véspera do feriado, obrigando o instituto a encontrar um substituto. Dois jovens recém-casados se oferecem para cuidar do turno, confiantes de que terão uma noite tranquíla e até um pouco romântica no local... Até que uma mulher começa a ligar. A voz no telefone conta que está sendo perseguida, porém alguns detalhes de seu relato parecém desconexos. Ela desliga e liga repetidas vezes, levando os voluntários a uma situação de incredulidade e pavor mortal. Mais um desenvolvimento maravilhoso, novamente um final perfeito. Não é a toa que o autor foi premiado duas vezes com o Carnegie Medal.
Warren, Sharon e Darren é a velha história que todo mundo já conhece, sobre uma moça chamada Sharon que conhece um rapaz, e eram "nada parecidos" (sério, o começo é totalmente Eduardo e Mônica), mas se apaixonam e coisa e tal. Ela não bota muita fé no namorado, que não trabalha e de vez em quando aparece com maços de dinheiro, sabe-se lá de onde. Mas ela também não diz nada, pois sabe que quando abrir a boca, vai acabar com o mundinho de ilusão em que vive. Porém, um estranho acontecimento faz com que Warren mude totalmente de atitude, tornando-se o homem responsável e trabalhador com quem ela poderia viver... mas isso está longe de ser o fato mais estranho, já que há um bom motivo para isso estar acontecendo. Um motivo que só ficará claro lá pelas últimas páginas dessa excelente história.
Tio Otto é o conto mais fraco, o que não significa que seja ruim. Ah, mas não mesmo! A trama é sobre a visita que um professor meio excêntrico faz a uma antiga aluna e seu filho, desencadeando acontecimentos bizarros em um parque perto da casa destes. Primeiro, pavões parecem surgir do nada nos jardins das casas, mas quando os vizinhos tentam capturá-los, as aves desaparecem pelas sebes; depois, estátuas antigas começam a aparecer pelas ruas, fato seguido por outros cada vez mais bizarros, levando a uma situação cada vez mais sinistra. História fraca em relação às outras, mas ainda assim acima da média.
Por fim, O Relógio da Casa Vermelha fecha a obra e faz bonito, contando a infância do personagem narrador ao lado de um pai bondoso, porém rígido, que permite que o filho trabalhe para um amigo que organiza leilões de objetos empenhados. Quando vão buscar o que sobrou na casa de um Major falecido, o menino se apaixona por um grande - e quebrado - relógio de mogno, que é levado para a loja do patrão. De noite, o garoto recebe em sonho a visita do falecido major, que lhe pede que conserte o relógio, pois este ainda "tem um trabalho a fazer". O mais interessante nesse conto é a relação entre pai e filho, que chega a ser tocante ao descrever como um homem tão ignorante e avesso à educação consegue ser amoroso com seu rebento, embora também seja capaz de atitudes bastante questionáveis.
Histórias de Arrepiar é um perfeito exemplo da máxima "nunca julgue um livro pela capa". Caso o encontre em algum sebo, pode ficar feliz, meu caro escavador de raridades: você encontrou mais um pequeno tesouro.
Abraços, boa leitura!
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Valeu pela dica, Mário. Achei bem interessante (e a capa não é feia, não!)
ResponderExcluirValeu, Riesemberg! Ah, eu achei feinha... Fora que, como o livro é de bolso, dá uma impressão ainda pior. Mas o conteúdo, ahhh. Rsrs. Abraço!
ResponderExcluirMeu... Eu li esse livro quando estava na quarta série (1992), num dia de raiva em que me isolei no fundo da biblioteca da escola. Na hora nem prestei atencão na capa, no nome do livro, mas as histórias ficaram na minha cabeça por muito tempo. E, durante anos eu procurei esse livro, mas quando falava de alguma história, todo mundo pensava que era "Amazing Stories".
ResponderExcluirEsse post acabou com uma busca de mais de 15 anos!!!
Obrigada mesmo!
Que bom Anônima, fico feliz em ter ajudado! Sei o quanto é bom quando encontramos algo que fez parte da nossa infância. Abraços!
ResponderExcluirli esse livro a muito tempo e gostaria que me indica-se algum blog aonde possa baixar esse livro ele e muito legal mesmo
ResponderExcluirnada mau p/ quem gosta, e eu amei muiiiiiito!
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirVc não vai acreditar... eu já li este livro há mais de 10 anos, e adorei, porém não me recordava o nome dele, nem de nenhum dos contos, embora me lembrasse da história do texugo e do casal... foi uma surpresa mais do que grata visitar teu blog hoje e descobrir o nome desse livro, que há tanto tempo eu queria lembrar! Ganhou uma seguidora! =)
Que bom ser util, Tânia. Abraço, continue acompanhando ;)
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