sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Entrevista: Ademir Pascale, autor de O Desejo de Lilith

Ademir Pascale é um nome conhecido na literatura fantástica nacional. Ativista cultural, lingüísta, crítico de cinema, editor e escritor, Ademir é responsável por inúmeros projetos na área da literatura fantástica, incluindo contos, sites e antologias de horror e ficção. Casado com Elenir Alves, (também escritora) os dois editam e distribuem o TerrorZine, revista virtual que sempre tem presença garantida aqui na Biblioteca Mal-Assombrada. O escritor conversou conosco há alguns dias, mas parece que não foi visto desde então. Bem, leiam a entrevista e tirem suas próprias conclusões.

Olá, Ademir Pascale! Seja bem vindo à Biblioteca Mal-Assombrada. Vejo que conseguiu passar pelo nosso porteiro Golem. O ingrato teima em reclamar do salário substancial que eu pago sempre que lembro! Teve uma vez que ele agarrou um infeliz pelo pulso para se lamentar, e não soltava, até que o coitado preferiu serrar o próprio braço para fugir daquela ladainha. Mas estou divagando, vamos começar e entrevista. E então, como está a ansiedade para o lançamento de O Desejo de Lilith?


Olá, Mario, agradeço pela entrevista. Confesso que estou ansioso, quero logo ter o livro em mãos, mas acredito que seja uma ansiedade normal de escritor. Falta pouco, menos de um mês (20/02/10).


Fale um pouco sobre as diferenças entre escrever contos e uma história longa.

O conto deve ser ágil, diferente do romance que podemos jogar várias ideias e trabalhar longamente vários personagens. Não tenho dificuldades em escrever minicontos, contos, novelas ou romances. O verdadeiro escritor desenvolve histórias com qualquer limite de caracteres. O que predomina é a criatividade. Um bom exemplo é o miniconto do consagrado escritor estadunidense Ernest Hemingway (1899-1961): Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.

Há vários personagens históricos em seu romance. Como foi o trabalho de pesquisa?

Já fazem 19 anos que venho fazendo esse trabalho de pesquisa histórica, isso porque tenho 33 anos. Sou aficionado por esses personagens, destacando os bíblicos. Gosto muito de história e antiguidade, e não é difícil me encontrar num museu observando quadros, esqueletos e artefatos antigos. Muitos me conhecem apenas como Ademir Pascale, crítico de cinema, editor, escritor e ativista cultural, mas iniciei minha carreira assim, estudando e pesquisando história. Também sou pesquisador de paranormalidades e do fenômeno UFO, ex-colaborador da Revista UFO. Escrever sobre várias personagens históricas em meu romance, não foi difícil, pois sempre estive mergulhado nelas. O Desejo de Lilith está recheado de pesquisas, acredito que o leitor, além de se deliciar com a história, aprenderá muito.

O livro fala algo sobre um erro de tradução na Bíblia. Acha que isso pode gerar alguma polêmica?

É algo muito antigo, mas não é bem um erro, mas sim “esquecimento”. A Bíblia é uma coleção de pequenos livros e relatos de várias pessoas, teve vários tradutores, escribas e muitos envolvidos. Na antiguidade eles eram proibidos de citar alguns nomes, um deles foi esquecido e citado, algo verídico. Muita coisa que poderíamos aprender, foi apagada, esquecida e modificada, talvez para todo o sempre. O desenvolvimento de O Desejo de Lilith, gira em torno deste “pequeno” esquecimento; pequeno somente em nome, pois através dele pude descobrir que existe algo bem maior.

Fale algo sobre o livro que você ainda não contou a ninguém!

O bíblico Caim está envolvido na trama, algo que ainda não comentei no blog oficial. Estou desenvolvendo com uma bruxa (verdadeira) um artefato anti-demônio, um brinde que pretendo distribuir para quem adquirir o livro O Desejo de Lilith no dia do lançamento.

Agora, uma pergunta que muito interessa os escritores iniciantes: como foi a jornada para conseguir uma editora?

Passei um ano e meio procurando por uma editora. Surgiram algumas interessadas, mas não eram comerciais. Eu disse para mim mesmo que encontraria uma comercial e que receberia pelos direitos autorais. Demorou um pouco, mas encontrei. A Draco, editora que publicará o meu romance O Desejo de Lilith, vem se mostrando promissora, com ótimos títulos que ainda serão lançados este ano. Muitos escritores escrevem o seu primeiro romance e acham que estão prontos para adentrarem neste concorrido mercado. É preciso estudar, pesquisar, insistir e fazer a diferença, além de que todo escritor deve ter um site ou mesmo um blog, para mostrar e preparar o leitor, receber feedbacks, etc. Muitos desistem logo no início, pois não é fácil, são barreiras e mais barreiras, mas no final garanto que vale a pena.

Quando e onde será o local de lançamento do romance?

O Desejo de Lilith será lançado no dia 20 de fevereiro de 2010, no Bardo Batata: Gastronomia e Cultura. Rua Bela Cintra, 1333, Jardins, S. Paulo. No mesmo dia, horário e local acontecerá também o lançamento do Poe 200 anos, antologia que organizei com Maurício Montenegro, com presença confirmada de vários autores. Dois lançamentos imperdíveis. Para os que desejam saber mais, acessem e sigam o blog oficial do livro:

Quem comparecer poderá pedir uma dose por conta do Ademir (ok, é mentira)

Fale sobre seus projetos futuros. Algum outro romance a caminho? Teremos mais antologias temáticas esse ano?

Além das antologias em andamento No mundo dos cavaleiros e dragões e Zumbis: quem disse que eles estão mortos? Para este ano estou com a ideia de mais duas antologias, uma delas é o Draculea II. Em 2009, juntamos sete escritores: Ademir Pascale, Roberto Causo, Nelson Magrini, Adriano Siqueira, Rosana Rios, J. P. Balbino e J. Modesto. Fizemos uma obra temática que foi aprovada por uma editora, recebemos a resposta no início deste ano. Acredito que o lançamento será em março, mas o título e o nome da editora ainda é segredo...(rsrs) Fora isso, estou trabalhando com o Maurício Montenegro numa outra coletânea com mais seis escritores: Gerson Lodi-Ribeiro, Waldick Garrett, James Andrade, Juliano Sasseron, Regina Drummond e L. F. Riesemberg (o título também é segredo). Ah, comecei a rascunhar meu segundo romance, a ideia é tão boa quanto a do O Desejo de Lilith.

Gostaria de saber um pouco sobre seu processo de escrita, do surgimento de uma idéia até a história finalizada.

Minhas ideias surgem do nada, é incrível. Muitas vezes quando surge uma ideia, estou dormindo e sonho com ela, quando acordo tenho logo que pegar uma caneta e um papel para escrever, senão esqueço...(rsrs) Confesso também que na maioria das vezes, quando estou desenvolvendo uma história, o meu som está com o volume no máximo, sempre com um clássico do rock. Também no desenvolvimento, tudo depende do meu estado de espírito, algumas vezes o texto sai completamente melancólico, outras “um pouquinho” mais alegre...(rsrs)

Imagino que O Desejo de Lilith seja seu “xodó” agora. Mas de todas as outras histórias que você escreveu, qual é a sua favorita e por quê?

Você acertou, meu xodó agora é O Desejo de Lilith. Mas de todas as histórias que escrevi, além do Lilith, a minha favorita será publicada este ano na coletânea que citei em uma das respostas acima, o conto é intitulado “Amor Liberto”, pois nele uso boa parte do meu conhecimento sobre religião, além de usar um dos meus personagens históricos favoritos: Jesus Cristo.

Imagem da nova queridinha do Ademir. Deixa a Elenir ficar sabendo :)

Você é um dos editores da Terrorzine, fanzine virtual especializada em minicontos. Pelo que pude constatar, o miniconto é algo que causa certa polêmica, pois muita gente acha que é impossível construir algo com valor literário em tão poucas linhas. Quais suas opiniões a respeito disso?

Nada é impossível, e diz isso somente aqueles que tem problemas com quantidade de caracteres. Na literatura, tudo causa polêmica, sempre alguém critica ou está contra algo. É difícil agradar todo mundo, não é verdade? O miniconto está associado ao minimalismo; literatura minimalista. Um grande destaque na produção de minicontos, foi publicado em 1994 pelo escritor Dalton Trevisan, com a obra Ah, é? (Record). Ainda posso destacar Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século (Objetiva, 2004), coletânea organizada por Marcelino Freire, onde reuniu vários autores com minicontos de até cinquenta letras.

Sabemos que você é um leitor voraz. Leu algum livro de horror interessante ultimamente, que gostaria de recomendar aos nossos freqüentadores?

Li menos do que esperava em 2009 , pois escrevi muito, mas destaco Pride And Prejudice And Zombies (Chronicle Books), uma paródia sobre zumbis criada pelo autor Seth Grahame-Smith, baseada na consagrada obra Orgulho e Preconceito da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817).

Por fim, a pergunta obrigatória aqui na Biblioteca: se você tivesse o Necronomicon em mãos, você o leria?

E quem disse que eu não li?

Pois bem, obrigado pela entrevista. Desejamos sucesso para seu romance e novos projetos. Perdoe-me por não acompanhá-lo até a saída, mas esqueci mais uma vez de pagar a merrec... digo, o justo ordenado do Golem. Seja rápido ao passar pela porta, senão... Ah, melhor levar este serrote contigo.

Valeu. Desejo-lhe muito sucesso em suas empreitadas. E não esquenta com o serrote, sempre ando com um martelo e uma estaca.

Hmmm, acho que isso só funciona com vampiros, mas tudo bem. Abraços, volte sempre!


"Pois é, sempre me confundem com o Edward do Crepúsculo."


5 comentários:

  1. Adorei a entrevista!
    Com certeza uma grande obra!
    E Ademir quero meu artefato anti-demônio hein!!
    Abraços

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  2. Também nada a ver com o tópico: eu comprei o livro A Dama ou o Tigre e Outros Problemas Lógicos, de Raymond Smullyan, que é baseado no conto. Muito legal. Traz uma série de questões de lógica que fazem o leitor quebrar a cabeça para descobrir qual porta o prisioneiro deve abrir. Recomendo!

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  3. Mario Carneiro Jr.
    Nascido em Curitiba, já publicou contos nos livros Draculea, Invasão, Alterego e Galeria do Sobrenatural, na revista Scarium Megazine, em fanzines impressos (Astaroth e Juvenatrix antigos), fanzines eletrônicos (Astaroth e Juvenatrix novos, no TerrorZine) e diversos sites (como o Boca do Inferno). Acredita que a publicação de seu livro solo não demora muito. Tomara.

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