sábado, 16 de janeiro de 2010
AS MINIATURAS DO TERROR, de Tabitha King
É difícil deixar de comparar As Miniaturas do Terror (Editora Francisco Alves) com os livros de Stephen King, uma vez que a autora é esposa do mesmo (eu sei, você não achou que o sobrenome era coincidência, rs). Imaginando que a comparação seria injusta, procurei ler o livro sem preconceitos ou comparações, para conseguir assim avaliar a obra da maneira adequada. Pois bem, o livro até funciona, mas com ressalvas.
A personagem principal é Dorothy Hardesty Douglas, filha de um ex-presidente americano que, na meia idade, vive presa nas recordações dos tempos de glória. Rica, possui uma detalhadíssima miniatura da Casa Branca, que para ser perfeita carece apenas de um detalhe: moradores. Então, o cientista sexualmente reprimido Roger Tinker, que nutre uma estranha paixão pela protagonista, oferece a possibilidade de realizar seu desejo. A primeira vítima acaba sendo a jornalista e apresentadora de TV Leyna Shaw, por quem Dorothy já nutria ódio e inveja. Miniaturizada e presa na maquete, Leyna precisa enfrentar os maus-tratos da giganta que a aprisiona, sendo obrigada a submeter-se à seus caprichos infantis e insanos. E ela é só a primeira, afinal, a carcereira deseja povoar ainda mais aquele pequeno espaço onde pode brincar de Deus... e seus dois netos, a nora e o ex-amante (que agora tem um caso com a nora) podem ser as próximas aquisições.
O grande problema de As Miniaturas do Terror é que ele não entrega aquilo que promete. Tudo bem, talvez a autora não tenha culpa pelo texto na orelha da obra, mas ao saber do que se trata o livro, o leitor espera algo grotesco e apavorante, uma história sobre maus-tratos e abuso de poder, onde uma pessoa decide o que pode fazer sobre aqueles que são fracos demais (fisicamente falando) para opor resistência. No entanto, Tabitha King prefere adotar uma abordagem mais sutil, que resulta frustrante e insatisfatória; a interação entre Dorothy e a miniaturizada Leyna é mínima (não é trocadilho), resultando em poucos momentos de tensão e medo. Para alguém que odeia Leyna, Dorothy é benigna demais para um romance do gênero horror.
A idéia da autora, logicamente, foi mostrar aos poucos a degradação física e psicológica das duas mulheres, uma ao se deslumbrar com o poder recém-adquirido, a outra por ser privada de todo o poder que possuia. É interessante notar que a belíssima Leyna era muito mais alta do que Dorothy, que parece sentir um pouco de complexo a respeito disso (embora fique subentendido). Porém, embora a escritora consiga passar esse sub-texto psicológico com competência, particularmente teria preferido algo mais explícito, além de mais interações entre as duas rivais.
A linguagem da escritora também não é das mais fáceis. Não é uma escrita gostosa de ler, então a leitura flui de maneira lenta. Além disso, há muitos diálogos e situações dispensáveis, que ao invés de acrescentar algo à trama, parecem apenas atrasar o principal (há vários trechos em que pensamos "que droga, quero acabar logo essa parte chata para ver o que está acontecendo lá na miniatura!"). Os personagens, por sua vez, não possuem particularidades muito definidas, o que não deixa de ser um elogio: nesse aspecto, a autora tentou evitar os clichês e convenções do gênero. Por fim, o desfecho é bastante adequado, embora não seja dos mais surpreendentes.
Miniaturas do Terror é até legalzinho; contudo, é o tipo de obra que deixa um gosto meio amargo na boca, pois ficamos com a impressão de que poderia ter sido bem melhor. A abordagem diferenciada que tenta escapar dos clichês é louvável, mas nem sempre funciona. Acredito que saber usar clichês (na medida certa) é muito mais eficaz do que tentar fugir deles e cair em outros lugares-comuns, resultando assim numa leitura desnecessariamente complexa e claudicante. Mesmo assim, é um livro que demonstrava o potencial da autora, que publicou outros livros que não foram lançados no Brasil. Fica a curiosidade de saber se ela melhorou ou não.
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