sábado, 2 de janeiro de 2010

DUMA KEY, de Stephen King


Podem falar o que quiserem de Stephen King, menos que ele é um escritor preguiçoso. Todo fã desse simpático morador do Maine pode contar com pelo menos um livro dele por ano, quando não dois. E o presente que meu autor favorito mandou nesse natal atende pelo singelo nome de Duma Key (Editora Objetiva).
A trama começa com Edgar Freemantle narrando como sua vida mudou após um acidente, que quase esmagou seu crânio e arrancou seu braço direito. Tomado pela dor constante e pela revolta, Edgar se vê abandonado pela esposa após um terrível episódio de violência. O suicídio passa a parecer uma opção cada vez mais atrativa. No entanto, pelo bem da ex-esposa e das duas filhas que ama, ele resolve dar um tempo antes de tomar essa medida final (sugestão do Dr. Kamen, psicólogo de mente aberta), então muda-se temporariamente para a Flórida, terra dos aposentados, do sol e dos crocodilos. Antes de sua partida, o dr. Kamen faz a seguinte pergunta:
"- Edgar, existe alguma coisa que o faça feliz?
- Eu costumava desenhar.
- Então retome o hábito. Você precisa de proteção. Proteção contra a noite."
Por sorte (que ironia!), Edgar é canhoto, então pode seguir a dica. Uma vez instalado no Casarão Rosa de Duma Key, uma ilhota isolada e bela, ele começa a desenhar. E aos poucos, descobre que seus desenhos (que mais tarde se desenvolvem para pinturas) possuem um poder muito maior do que ele imagina.
Um poder maligno, que ele desejaria nunca ter invocado.
Duma Key é um dos bons de Stephen King. Digo isso porque, embora seja fã do cara, não sou cego para os defeitos de sua escrita, e há um ou outro livro seu (entre seus 52 lançados no Brasil, se não fiz as contas errado) que não consigo gostar. O autor possui alguns vícios que considero irritantes, como a mania de criar diálogos com uma solenidade exagerada, ou a insistência em adiantar o que vai acontecer várias páginas antes ("e foi a última vez que falei com ela" é uma de suas frases típicas). Tudo isso está presente em Duma Key, é claro, mas por sorte, os motivos que o tornam um dos autores mais queridos do mundo também permeiam as 665 páginas de Duma Key. E cara, Stephen King está em boa forma!
A fascinante história do aleijado que, aos poucos, descobre que possui um talento sobrenatural, desenvolve-se num ritmo lento, mas nunca desinteressante. Quem conhece o autor sabe que ele é mestre em suas descrições, na ironia inesperada, na escrita deliciosa de acompanhar. Edgar vai se envolvendo com seus vizinhos, o sarrista Wireman e a senhorita Elizabeth, um amor de pessoa com um passado sinistro. Personagens carismáticos e memoráveis, do jeito que King sabe criar com maestria.
Pelas capas e sinopses das obras de King, dificilmente ficamos sabendo qual entidade sobrenatural o escritor resolveu abordar. Acho que isso é parte da surpresa, então não vou adiantar aqui (pois, de certa forma, é até meio "inclassificável). Porém, não duvide: embora puxe muito para o drama sobrenatural de início, o livro é uma obra de terror. A primeira cena apavorante acontece lá pela metade do calhamaço, e depois elas vão aparecendo aos poucos, na medida certa, até o terceiro ato estilo "James Cameron", ou seja, pauleira pura (e estou falando isso no melhor sentido possível!).
O clímax do livro - ou ao menos, o que pareceu o clímax para mim - é de uma angústia e de uma claustrofobia que há muito tempo não se via, nem nos livros recentes do mestre do terror.
King continua respeitando a inteligência de seu "leitor constante", e nem tudo fica explicado ao final da trama, deixando espaço para nós mesmos preenchermos as lacunas.
E para o leitor atento, que lembrou que "pinturas sinistras" é um tema recorrente na obra do escritor (como exemplos imediatos, consigo lembrar de Rose Madder e O Vírus da Estrada vai para o Norte), não se preocupe. Ele não se repete aqui.
Duma Key é um King típico, com todos os defeitos que estamos acostumados, mas também com todo o sarcasmo, a diversão e o terror cru que somente ele é capaz de criar. Será que seus livros poderiam ter maior qualidade, caso ele escrevesse menos? Talvez. Provavelmente sim. Mas é provável que, se assim fosse, ele não tivesse nos presenteado com metade de suas obras apavorantes e imaginativas, repletas de idéias tão bizarras e geniais que ficamos nos perguntando: "como é possível que uma única pessoa tenha tantas coisas incríveis?". Enfim, as qualidades (únicas) do prolífico Stephen King superam MUITO seus defeitos, e acho que é uma troca justa.
Duma Key é o melhor livro de King nos últimos dois ou três anos, além de estar em pé de igualdade com alguns de seus clássicos. Altamente recomendável, portanto.
Boa leitura!

15 comentários:

  1. demais!!!! Stephen King e sempre um otimo escrito o meu favorito. se não fosse por esse blog seu nem saberia sobre esse livro dele por tanto obrigada. ^^

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  2. Acabei de ler o livro agora, e acho um dos melhores da sua obra, justamente porque mistura terror, fantasia e drama, e carrega op manto de tristeza otimista característico. Edgar Freemantle é um dos melhores personagens que ele já criou, na minha opinião.

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  3. Cara, quanto custa esse novo livro do King? Acho que o maior problema dele são os livros muito grandes e consequentemente, muito caros. Mesmo assim, ele é o meu escritor favorito!!!

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  4. Edson, o livro custa entre 60 e 70 reais. Meio caro mesmo, mas compensa. Abraço.

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  5. cara...king é muito bom, realmente, mas seus finais...seeeeeeeeeeempre previsiveis!! ainda nao li esse livro, mas aposto que o cara morre no final. king e seus finais...

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  6. Os finais do King são previsíveis? Claro que não, amigo! Você deve ter tido azar nos que leu, rsrs. Li todos que ele lançou no Brasil, e nem sempre o personagem morre no final, garanto ;). Não posso comentar o final desse aqui, pois seria spoiler, mas se gosta de King, vai gostar desse. Abraço!

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  7. King é um escritor magnífico. Adoro seus livros e DUMA KEY comecei a ler recentemente, mas já percebi q será mais um de seus livros q entrará na minha lista dos FAVORITOS.
    Mas Mario, o real motivo de eu estar postando um comentário é q gostei muito da sua crítica referente a DUMA KEY e queria q vc comenta-se CELULAR, o meu preferido mas q o final me deixou um pouco perdida. Gostaria muito de saber sua opinião referente ao livro e um comentário sobre o final, caso vc o tenha lido.
    Agradeço a atenção.
    Abraço!!!

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  8. Oras, Anônimo(a), é a primeira vez que alguém faz um pedido de livro! Assim sendo, lógico que comento! Rsrsrs. Assim que possível, faço a resenha. Abraço!

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  9. Já fiz meu pedido no Saraiva e estou esperando chegar. Com certeza deve ser muito bom.
    King é sempre king em seus livros com temas sobrenaturais.

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  10. o livro tem 700 paginas, muita preguisa de ler

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  11. Poraa, "preguisa" - percebe-se logo!

    Emprestei o livro da minha irma! To na metade, e agora que o bicho ta comecando a pegar de verdade!

    (sem cedilha e acentuacao - chip)

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  12. Eae Mario, beleza?
    Achei muito interessante sua critica a Duma Key, também sou um leitor assíduo do Mestre do Terror. Mas o comentário é mesmo porque vc "desqualificou" uma das coisas que eu mais gosto na obra dele: "e foi a última vez que falei com ela". Cada vez que ele antecipa algo que acontecerá me vem um turbilhão de pensamentos a cerca do que acontecerá e etc, acho esse um dos pontos fortes dele: "dar a noticia antes que ela ocorra". Hahaha, gostei do blog, passearei por aqui com certa freqüência. Grande abraço.

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  13. Mais do que 600 páginas, o livro tem 666 páginas... uma brincadeira sutil com o numero macabro.

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  14. Esse é o Melhor livro que eu li em toda a minha vida, e também o primeiro (concerteza não o último) do S. King.

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