domingo, 3 de julho de 2011

EU SOU A LENDA, de Richard Matheson


Olá, leitores. Faz tempinho que não posto nada aqui, hein? Shame on me! Bom pretendo mudar isso nas próximas semanas, e tentar fazer ao menos uma postagem por semana. E para enriquecer nossa tenebrosa biblioteca, trago hoje aquele que é, na minha modesta (que de modesta não tem nada) opinião, o melhor livro de vampiros já escrito: Eu Sou a Lenda, do fabuloso escritor Richard Matheson.

"Mas peraí um pouquinho!", esbraveja o leitor apressado, "isso aí não é a história que deu origem aquele filme com o Will Smith, que até começa bem, mas cuja metade final é piegas e idiota ao extremo?". Sim, de fato o filme com nosso eterno Fresh Prince se baseia no livro, mas Matheson não tem qualquer culpa por Hollywood ter estragado mais uma grande história.

A edição mais recente foi publicada pela editora Novo Século, trazendo na capa a arte do filme citado acima e também outros contos do Matheson de lambuja (porém, ao contrário de O Incrível Homem que encolheu, que também trazia histórias curtas, nenhum dos contos aqui me pareceu digno de nota). Bem antes disso, o livro foi publicado pela Editora Francisco Alves com duas capas, uma é aquela que está lá em cima, a outra segue abaixo, com um título diferente (mas o livro é exatamente o mesmo).



Provavelmente, o título diferente serviu para pegar carona na adaptação cinematográfica do mesmo livro feita em 1971. Sim, o manuscrito teve outras adaptações cinematográficas além da versão com Will Smith, sendo que a primeira foi Mortos que Matam (64) com Vincent Price. Contudo, adaptações cinematográficas ruins à parte, falemos do livro por enquanto.

Como é comum nas histórias de Matheson, Eu Sou a Lenda já começa de maneira instigante; somos apresentados a Robert Neville, que vive uma rotina de aparente isolamento em uma cidade abandonada; ele está averiguando os estragos feitos em sua casa/fortaleza durante a noite, e ocupa-se em consertar tudo rapidamente, antes do pôr do sol. Logo, descobrimos o porquê dele precisar agir apressadamente durante o dia, arrumando suas defesas e partindo em perigosas expedições em busca de mantimentos: o mundo foi povoado por vampiros e, pelo que tudo indica, ele é o último ser-humano da face da Terra.

A história é narrada de uma maneira lenta, mas nunca desinteressante, mostrando a rotina de um sobrevivente, a luta diária (e noturna) de Robert Neville. Aos poucos, vamos descobrindo o que aconteceu para o personagem chegar aquela situação, e nesses pontos a história ganha sua força, por mostrar explicações perfeitamente coerentes (com a trama) para a existência de vampiros. Tudo é bem explicado, a alergia deles ao alho, a intolerância à luz do sol e, principalmente, a sede por sangue. Ok, ok, vocês já devem ter lido muitos livros ou assistido muitos filmes que também tinham explicações para esses aspectos, mas é provável que essa história tenha sido uma das pioneiras (o livro é de 1954). Mesmo que não tenha sido, é o que tem as melhores explicações de todos os que eu li, sem didatismo, tudo com a sutileza dos grandes mestres do fantástico.

Mas é claro, tudo isso ainda seria insuficiente para tornar este livro uma obra-prima, mas aqui entra o grande trunfo do mestre Matheson: o terror psicológico. Assim como no maravilhoso O Incrível Homem que Encolheu, o autor esmiuça tudo que um ser-humano sentiria em uma situação de total desesperança, medo e isolamento. Ao contrário de um náufrago, que sempre tem a esperança de ser resgatado e voltar para junto de seus semelhantes, Robert Neville SABE que é o último homem existente, o que trás questionamentos interiores soberbamente interessantes, tornando-o um personagem inesquecível. Existe um capítulo no livro que é absolutamente tocante (que poderia ser considerado spoiler, então vou escrever em outra fonte. Se não quiser saber, pule o parágrafo escrito em azul!): a praga que dizimou humanos também dizimou os outros mamíferos (ou então os vampiros acabaram com todos, não lembro bem), mas surpreendentemente, Robert avista um cão zanzando pelas redondezas; quase enlouquecido de solidão, o personagem tenta fazer amizade com o bicho, que foge apavorado; depois disso, acompanhamos todo o esforço de Robert para atrair o animal, que seria uma companhia de valor incalculável naquele mundo vazio. O suspense e o sentimento de piedade desse trecho são quase insuportáveis, e o desfecho... bem, você terá que ler para descobrir.

Os vampiros do livro são muito diferentes do vampiro elegante e sedutor, mais conhecido por todos, mas também diferentes dos vampiros bestiais e selvagens do filme homônimo (ou de outras obras recentes, como Noturno ou A Passagem (aguarde resenha deste para o futuro); pode-se dizer que os vampiros de Eu Sou a Lenda são quase um híbrido entre vampiros e zumbis, pois não são muito inteligentes nem muito rápidos, mas ainda se comunicam e suas características principais são, claramente, de vampiros.

O melhor do livro é a parte final, onde Richard Neville descobre uma inconveniente verdade e, sem remédio, faz aquilo que julga necessário em um clímax estupendo (e só um bilhão de vezes melhor que o clímax estúpido do filme).

Eu Sou a Lenda é isso: isolamento, questionamentos interiores, suspensente, terror e um final que deixará uma impressão duradoura. Mais um que é apenas obrigatório.

Abraços, e até breve (prometo!).

4 comentários:

  1. Nossa, fico feliz em ver a Biblioteca ativa. Um dos blogs mais legais do universo virtual. Não suma de novo heim.

    Ah, eu li depois de ver o filme, bem melhor mesmo.

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  2. Concordo em gênero, número e grau, Mário. "Eu sou a lenda" é muito mais que um livro de vampiros. É uma resposta às elucubrações hipocritamente virtuosas da nossa espécie quando levada ao limite. E, como disse a Tânia, ve se não some. Em tempo, resenhei A Passagem, lá no meu espaço há algum tempinho. Abraços!

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  3. Vou tentar não sumir, amigos. E Victor, vou dar uma olhada na sua resenha. Abraços!

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  4. Mais uma ótima resenha, Mário! Fico contente que tenha voltado a escrever mais seguidamente. Gostaria de entrar em contato com você. Poderia me passar seu email? Abraço!

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